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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

AQUELA SENSAÇÃO QUE SÓ BATE EM DEZEMBRO


Tive um sonho muito esquisito. Alguns sonhos são esquisitos, mas esse foi mais: todos os meus amigos tinham nome de mês. Junho, Julho, Outubro, Novembro. Os doze meses estavam ali representados, certinho. E por incrível que pareça, o que eu me dava melhor, era Dezembro. Agosto - mês do meu aniversário - ficava com ciúmes, mas isso não era algo que eu pudesse controlar. Dezembro sempre me compreendia mais, dava os melhores conselhos, me ouvia e quando eu tinha vontade de jogar tudo para o alto, ele vinha e me mostrava todas as coisas boas que tinham acontecido. Ele dizia que se olhasse dessa maneira, adquiriria forças para começar tudo novamente. E é justamente nesse momento que bate aquela sensação gostosa de que o ano, com todas as suas dificuldades, foi bom.

 Puxa vida, como foi bom!

Desde todas as coisas materiais – mesmo as mais fúteis – até as pessoas que entraram em nossas vidas. E mesmo as que saíram. As que voltaram e, principalmente, aquelas que nunca ousamos imaginar que voltariam.

No sonho, eu havia feito uma tabela para selecionar as melhores coisas que cada mês tinha oferecido. Dezembro não tinha nada. Ele apenas me ajudava a mensurar, agradecer e dar significação às lembranças. Cada detalhe das poucas oportunidades que tivemos de dividirmos a nossa vida, as alegrias, as coisas simples, a valorização dos amigos de todos os dias, o reencontro com os velhos amigos tão queridos e especiais, os sorrisos, as piadas, as recordações. Tem horas que ainda me pergunto quais eram as possibilidades de dar certo – e agradeço por ter dado. Algo que não imaginaria: reencontrá-los, do nada, numa cidade que não era mais a minha. Mas que mesmo assim fiz nela minha romaria.

Dezembro também fez questão de me felicitar por alguns esforços. Por eu ter deixado alguns confortos de lado pra fazer algumas pessoas felizes, pra me fazer feliz. Mas eu disse pra ele que mais que um compromisso com as pessoas, eu tinha um compromisso comigo mesma. E sempre vou ter: fazer por merecer as coisas que tenho vontade, junto com as pessoas que merecem. Dezembro achou bonito e quis ter sido Outubro. Só para ter vivido comigo a alegria plena que é um reencontro depois de mais de vinte e cinco anos, ser recepcionada da melhor maneira que existe, receber carinho, ser mimada, abraçar os amigos, beijá-los, declarar que os ama incondicionalmente e que apesar do tempo não foram esquecidos, ouvi-los atentamente, sorrir e chorar de felicidade, passar um final de semana admirando paisagens, sentindo frio e sendo aquecida pelo calor da amizade, comer uma pizza juntos e poder dizer em voz alta que em qualquer circunstância da vida eles continuam lindos, que são pessoas do bem e que tenho orgulho de cada um.


Mas, garanti para Dezembro, que no próximo ano ele estará regado de várias outras sensações como essa. Justo essa sensação que só bate em dezembro. Justo essa sensação que só depende da gente.

Dividir momentos como esses é tão bom que eu espero que se repita logo, que chegue a minha vez de fazer alguém feliz e que ao acordar a gente continue fazendo nossa romaria, para que no próximo Dezembro possamos nos sentir assim tendo feito parte disso mais uma vez.
O carinho que recebi ainda está comigo no cantinho do coração, as recordações de um caderno vêm me lembrar das saudades que sinto e, que não vão embora junto com esse ano.



sábado, 22 de dezembro de 2012

Correio de carinho


Como sempre faço todos os anos, saí para escolher o papel que seria usado na mensagem de Natal de minha lista de AMIGOS, lista essa que a cada ano cresce um pouquinho mais, o que me enche de alegria.
É quase uma espécie de ritual sair, escolher o papel, olhar suas cores e nuances, sentir sua textura e pensar na mensagem que caberá ali. Talvez por isso, grande parte daqueles que o recebe sinta-se feliz.

Sei exatamente o dia em que começam a ser entregues, pois é uma chuva de telefonemas de agradecimentos carregados de carinho, recebo e-mails e mensagens de todas as partes para ler e ouvir pessoas tão queridas, que muitas vezes nem nos comunicamos ao longo do ano por envolvermo-nos na correria do dia a dia atribulado, mas que por outro lado, não esquecemos, sabemos que estão lá, que nutrimos especial carinho e devotamos a mesma amizade, independente do tempo, da distância, da localização geográfica.

Este foi um ano atípico pra mim, normalmente, no máximo até o dia 5 de dezembro posto meus cartões nos Correios (método que já está quase extinto) – atrasei-me e só os postei no dia 14, correndo o risco de não chegarem a tempo, mas como os deuses das correspondências me ajudaram, creio que quase todos já tenham recebido.

Das várias mensagens que recebi uma me dizia assim: “A coisa mais gostosa do mundo é chegar em casa e ter um envelope com seu nome me esperando! ...quem ainda manda cartões de fim de ano pelo correio? Nossa, muito especial!”... E eu digo:

Eu ainda mando cartão de final de ano pelos Correios e, não é só isso, ainda mando cartas, cartões de aniversário, enfim, mando o que puder porque acredito sinceramente, que precisamos nos fazer presentes de alguma maneira que não seja o corriqueiro que se tornou o nosso mundo virtual. É uma forma de dizermos a quem tanto gostamos; “olha, mesmo com todas as outras facilidades que a vida moderna nos traz, eu parei, me lembrei de você de uma maneira especial”.

Acredito, sinceramente, que os pequenos gestos podem fazer alguma diferença e, nesse nosso mundo tão atribulado fazer a diferença, já é alguma coisa!

Meus cartões antes de serem enviados, espero que cheguem ao seu destino carregado de ternura, sempre!

domingo, 23 de setembro de 2012

Chegando no Vento


Nesse momento, penso em você
e então quisera me transformar 
em vento

E se assim fosse,
chegaria agora
como brisa fresca
e tocaria de leve sua janela

Se você me escuta
e me permite entrar,
em você vou me enroscar
quase sem o tocar

Vou roçar nos seus cabelos
soprar de mansinho no ouvido
beijar sua boca macia
o embalar no meu carinho

Mas eu não sou vento...
Agora sou só pensamento
e estou pensado em você

E se abrir sua janela
eu estou chegando aí,
agora... nesse momento,
em pensamento... no vento...

domingo, 12 de agosto de 2012

FRANCISCO, MEU MODELO





Meu avô, Francisco, do qual sinto muito orgulho de tê-lo como avô é a figura de pai que tenho, não porque não tenha tido um pai, mas, porque ele me deixou exemplos que marcaram muito e contribuíram para a formação do meu caráter. Francisco vive em mim, carrego o sobrenome que ele me emprestou, com orgulho, com muito orgulho.

Homem simples e sábio, homem que amou a natureza respeitando-a e tratando-a como seu semelhante.

Homem que dialogou comigo de maneira a me permitir as melhores vivências e descobertas subjetivas que tanto me ajudaram a ler o melhor livro da vida no qual nos encontramos todos nós.

Homem que foi cúmplice de ideias, de inteligência ímpar e sensível, que soube voar alto e mergulhar na profundidade de grandes pensamentos.

Homem que sempre esteve com a mão estendida para o amor e que deixou lições tatuadas em minha alma com sua delicadeza de gestos humanos, capazes de ensurdecer o grito das palavras vazias de sentimentos.

Homem que me deu valores capazes de ensinar-me a amar a natureza que, além de tudo, me dá a o crepúsculo, as estrelas e as noites de luar que enchem minha vida de encantamento, essas belezas fazem que como fogo, o amor me queime e me faça renascer sempre mais forte.

Francisco, meu “Chicão”, no brilho das estrelas de cada noite, na luz do luar que tanto encantamento me proporciona, ou mesmo, a cesta de frutas sobre a mesa, um chá, uma caminhada pelo campo, um buquê de flores, um copo de suco, a sombra generosa de uma árvore, o frescor da mata, a silhueta de um vegetal, a paisagem, enfim, todas essas provas e sinais do verde que nos mantém vivos, fazem que com que você esteja comigo todos os dias.

Te amo muito, sempre!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

VIVA SANTO ANTÔNIO!




Que seria de mim meu Deus
Sem a fé em Antônio
A luz desceu do céu
Clareando o encanto
Da espada espelhada em Deus
Viva viva meu santo

Saúde que foge
Volta por outro caminho
Amor que se perde
Nasce outro no ninho
Maldade que vem e vai
Vira flor na alegria
Trezena de julho
É tempo sagrado
Na minha Bahia

Antônio querido
Preciso do seu carinho
Se ando perdido
Mostre-me novo caminho
Nas tuas pegadas claras
Trilho o meu destino
Estou nos teus braços
Como se fosse
Deus menino



Dedicado a D. Cida que sempre me contagiou com sua FÉ e DEVOÇÃO! 


domingo, 13 de maio de 2012

Eterna Aprendiz


Até os meus dezoito anos, conheci o que significava a felicidade. 
Tive a boa fortuna de amar e conviver com uma pessoa maravilhosa. Bem quisera escrever mais sobre isso, porém é de amor que se trata e o amor é a mais bela de todas as frustrações, pois está acima do que se pode exprimir.
Na convivência diária, não cessava de apreciar através de seu comportamento de exemplos, a profundidade e a beleza do caráter da figura extraordinária que foi a mulher a quem tive a dádiva de poder chamar de Mãe.
Até quando a observava caminhar com ar tão simples, refinado e digno, a sua figura ereta, os lindos cabelos mostrando seus fios de ouro penteados caprichosamente, desabava sobre mim uma onda de amor, admiração, orgulho por tudo o que essa mulher significava e continua a significar para mim...
Ainda hoje, essa simples lembrança, me faz sentir um aperto na garganta e amplia meu coração!
Mãe, serei sempre uma eterna aprendiz do teu amor!

Fácil a gente ter mãe



Fácil a gente ter Mãe
nem todos percebem que a tem,
mas só de saber que ela existe,
que podemos encontrá-la a hora que desejarmos
que seus olhos sorrirão cheios de amor e bondade
ao ver nossa aflição;
que ao seu lado - ela que é frágil
confiantes no futuro 
o coração tão seguro
e o mundo todo tão bom
como se fosse verdade
só isto vale ter Mãe
e é uma felicidade.

Fácil a gente ter Mãe,
- quase toda gente tem -
Mãe é uma coisa tão bela!
Pena é ver que há pelo mundo 
os que só sabem que há Mãe
porque ouviram falar nela,
só a conhecem de nome, 
às vezes, nem isso,
Mãe é uma simples palavra
como uma nuvem ao vento,
um vazio pensamento.

Fácil a gente ter Mãe,
muitos nem percebem que têm,
todos os dias ao seu lado
quando se tem certeza 
e se sabe onde ela está
para dividir com ela
uma alegria, um revés,
que basta só querer vê-la
assim, é fácil ter Mãe.

Difícil, sim, é perdê-la
é ter que aceitar a ideia
de que no lugar de sempre
ela já não se encontra mais;
não adianta abrir a porta,
não passeia mais na varanda;
a cadeira está vazia,
na cama não há ninguém;
e aquela voz, aquela voz que nos confortava
que nos dava tanta paz,
que era um bem que não tem preço,
que era o nosso maior bem;
não ouviremos mais, calou-se
é que ela mudou-se para um plano superior.

Como é difícil perdê-la
procurar e não encontrá-la
não poder sentar-se ao seu lado
passearmos na varanda
vê-la no quarto ou na sala
que partiu sem ter volta
que pra nós, nunca mais volta
e, indefesos, sozinhos
termos que aceitar a sorte
por desolados caminhos
inconformados com a morte
perdidos, sem o seu carinho.

Fácil é a gente ter Mãe,
Mãe é assim como uma estrela
estrela guia que a gente traz dentro de nós guardada;
difícil sim, é perdê-la
como uma estrela-cadente
que de repente se apaga...

E eu, meu Deus, a perdi...


terça-feira, 1 de maio de 2012

TRIBUTO A UM CAMPEÃO



Ayrton Senna...

Há dezoito anos, numa das manhãs de domingo, acompanhava o que seria sua última corrida no Grande Prêmio de Fórmula 1 de San Marino. A quase 300 Km/h a batida fatal na curva Tamburello interrompia a vida de um dos maiores ídolos que o Brasil já teve.  Mal podia acreditar no que meus olhos viam, o país estaria órfão a partir daquele instante. O Brasil parou, São Paulo parou para chorar sua perda, parecia que tínhamos perdido um membro querido da nossa própria família. A partir daquele 1º de maio de 1994, a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma, a corridas, para mim, também foram interrompidas. Na ocasião escrevi o que ia na alma:

Pai, por favor, recebe esse menino de sorriso franco, com muito carinho e compreensão.
Pode ser, que ele chegue aí desorientado,
procurando seus adversários pelo retrovisor.
Por favor, Pai, coloque a mão em sua cabeça e lhe diga:
"Acalme-se, meu filho, você está em casa
Você venceu, é o meu campeão."
Diga-lhe também, que ele cumpriu sua missão, enchendo os brasileiros de orgulho e emoção por todas as pistas onde correu.
Ah, meu Deus!Conte a ele o quanto o amamos e, se preciso for, mostre-lhe a dor estampada no rosto de cada criança, cada pai, cada mãe, a dor de uma nação inteira.
Diga a esse bom moço com cara de piloto, que sentiremos muito a sua falta e que nosso coração está apertado e pequenino.
Que nós continuaremos a procurar por seu capacete amarelo voando baixo nas pistas durante as manhãs de domingo, na esperança que ele surja do nada fazendo a última curva antes da reta de chegada, de punho cerrado e erguido para comemorar mais um vitória da ousadia, do arrojo, do talento de um ás do volante, mais uma vitória do Brasil!
Por fim, Deus, dê-lhe um grande abraço e diga-lhe obrigado por todos nós.
Obrigada, Deus, por intermédio desse menino piloto, ter lavado tantas vezes a alma do brasileiro, com inesquecíveis banhos de champanhe numa comemoração em que o Brasil sempre estava de pé no pódium da vitória.

Ainda hoje, sinto falta desse cara!


sexta-feira, 27 de abril de 2012

O TAMBOR



Tambor que marca
As batidas de coração
De nossa Mãe Terra
Lembrando-nos de quem
Nos botou no mundo
.Ritmo que une 
Pulsar de Flama e Fogo
Reflexo 
                       Do desejo                                                             
De nossos corações.

No decorrer do tempo os povos uniram-se às batidas do coração da Mãe Terra, eles perceberam que a Mãe participava de suas cerimônias e sentiram que, ao bater os tambores, criava-se um ritmo comum, quase imperceptível, que parecia emanar da Terra. No interior de uma caverna, ou numa clareira da floresta, a batida do coração da terra afinava-se com a batida do coração de todos. Enquanto histórias das caçadas vitoriosas eram representadas diante da fogueira o Tambor emitia um som grave e fazia circular uma energia que deixava todo o grupo em estado de frenesi.

Até hoje, em várias parte do Planeta, povos continuam dependendo do Tambor para despertar a energia de cada um dos participantes de rituais ou cerimônias. O uso do Tambor gera uma energia coletiva que pode ser usada para ajudar em curas, orações, agradecimentos, viagens. O Tambor pode ser usado como um mapa ou guia para aqueles que buscam os universos paralelos ou estados alterados de consciência, ele conecta o coração da pessoa que empreende esta jornada com a batida do coração da Mãe Terra e lhe garante uma maneira segura de voltar ao corpo físico. O uso do Tambor como guia evita que a pessoa se perca no meio do caminho ou que perca seu equilíbrio interno ao sair em busca de outras realidades.

Os Xamãs veem usando desde os tempos mais remotos o som de flautas, cantos, animais ou batidas de tambor como um mapa para que o homem alcance os outros níveis de seu mundo interno. O som do Tambor é percebido pelo ouvido e internamente sentido, isto dá  uma nova impressão do primeiro som que qualquer ser humano já ouviu. Esse som estava no útero e era um duplo batimento cardíaco. O coração do filho e o coração da mãe ressoam através da bolsa amniótica e espelham a ligação humana com a Mãe Terra.

Sempre que existe um sentido profundo de conexão com a Mãe Terra, a energia da confiança torna-se mais atuante e a pessoa consegue realizar jornadas mais bem sucedidas. Esse senso de pertencer à Terra de forma natural capacitou os Xamãs a enxergar o mundo com mais facilidade. Aqueles que utilizam a batida do coração da Mãe Terra para cuidar de seus corpos, enquanto os espíritos viajam por universos paralelos, ficam relaxados e bem protegidos.

O poema Quero Ser Tambor do moçambicano José Craveirinha nos fala dessa sensação de pertencimento à Terra e do querer ser só coração!

Quero Ser Tambor


Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor 
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu 
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até a consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!


sábado, 21 de abril de 2012

AMOR FESTA E DEVOÇÃO

Conversando com um amigo, ele me disse: "Por que você não publica em seu Blog as resenhas que já escreveu, para que a gente possa ler?" Respondi que elas já estariam velhas. Fiquei com a pergunta martelando em minha cabeça, sempre tenho a postura de achar que determinadas coisas, não causam tanto interesse. Por exemplo: meu amor declarado à "Minha Deusa Bethânia", pois o assunto em questão quando a pergunta surgiu era o show Amor, Festa e Devoção ocorrido em novembro de 2009.
Rafa, para que você possa ler o que escrevi, resolvi postar - espero que goste!

AMOR, FESTA E DEVOÇÃO – MARIA BETHÂNIA


 Maria Bethânia Viana Telles Veloso é o nome dela, aos sessenta e três anos de idade e quarenta e seis de carreira ela é hoje um clássico da música popular brasileira, já foi elevada ao patamar de grandes nomes da música mundial como Edith Piaf, Nina Simone e Ella Fitzgerald.
Bethânia já não cabe apenas nos rótulos de romântica, brejeira ou artista de massa, dessa forma foi que lançou de uma só vez dois álbuns Tua e Encanteria em seu show Amor, Festa e Devoção, trazendo para o palco composições amorosas, festivas e devotas que disse ser o grande ensinamento de sua mãe, Dona Canô, a quem o show foi dedicado. É preciso dar-lhe o crédito necessário, afinal, poucos artistas têm a ousadia e confiança para lançar dois trabalhos inéditos de uma só vez.
O álbum Tua leva o título da canção homônima de Adriana Calcanhoto, traz um repertório de canções de amor; já o segundo, Encanteria, de celebração e festa, ganhou o nome de uma das canções e letras de Paulo César Pinheiro presentes no disco e que tem como subtexto a fé, a esperança e a caridade. Maria Bethânia além de dar voz às canções as carrega de poesia, que, aliás, tem como sua marca registrada, interpretações  e leituras de textos durantes seus shows, o que costuma levar a platéia ao êxtase.
A narrativa, aliás, abriu-se ao silêncio, à reflexão. Ao agrupamento sensorial de cada um. Jorro forte. Cada um sabe como tratar intimamente os graves e os metais de Bethânia – seja em prosa no texto Olho de Lince de Waly Salomão – ou música – Vida de Chico Buarque, agora em camadas perfiladas de voz. Sinais iniciais.
Amor, Festa e Devoção se desenvolveu sob o signo da alegria, da forte vontade de causar encantamento nas pessoas de forma direta. Sem conceitos fortemente intrincados, o público viu sua estrela brilhar mais próxima da terra. Leve Maria. Dançou demais, brincou demais no palco.
O acento percussivo – nada desvairado – envolveu o repertório com trinta e cinco canções dando, inclusive, contornos mais incisivos a algumas extraídas do álbum Tua, o disco com canções de amor sábio. Jaime Além assegurando harmonias em violões e violas, a percussão de Marcos Lobo e Reginaldo Vargas. O show. A base. A festa.
Os olhares se convergem para Bethânia. É natural. Mesmo com gestos recorrentes e a direção bem familiar de Bia Lessa, ela mantém a postura incomparável. Um intérprete de porte nunca decepciona. E Maria Bethânia é a maior de todas, queiram os modernos ou não.
Bethânia afagou a platéia com cadência e dolência – o ritmo é tudo na vida de um espectador. Reciclou clássicos: Explode Coração de Gonzaguinha, cantada a capela, tão cabível ao espetáculo quanto imprescindível a alguns fãs. Porém, não há facilitações, Amor, Festa e Devoção não se inclinou aos comuns demais da conta.
Houve contrapartidas, isso sim. Se Bethânia ofereceu momentos de fruição, ela conseguiu – e consegue – silenciar todo o teatro para que todos ouçam e apreendam o que de novo, belo e intimista tem a apresentar. Se no bloco aberto e fechado com Saudade dela (Roberto Mendes), homenagem a Dona Edith do Prato, houve convite para se dançar e cantar, a sequência veio intensa e intimista com Saudade (Chico César – Paulinho Moska).
Queixa (Caetano Veloso), interpretada de maneira suave ao violão, busca vozes. Você perdeu (Márcio Valente – Nélio Rosa) do atual repertório, vem pungente e instala-se no refrão – “foi você quem se perdeu de mim, foi você quem se perdeu, foi você quem perdeu, você perdeu”. Há um sertão nos harpejos da viola. Um luar esquecido.
Urbanidade volátil. Uma asa parada no ar, o drama de Balada de Gisberta (do português Pedro Abrunhosa) a digressão do show. A brejeirice cavada nas mercadorias de Zezé di Camargo e na frase da dupla Bruno & Marrone – “do jeito que você me olha, vai dar namoro”. Tudo pacificado ao modo de uma inocente Maria ou na Bethânia religiosa que dedica os vermelhos à Santa Bárbara, oiá com bracelete no pulso direito. Ouro no esquerdo.
Comovente a interpretação de Não identificado (Caetano Veloso), que após o término ela diz: “Essa canção de meu irmão Caetano, era a preferida de meu pai. Eu sempre imaginei que ele ouvia, se comovia e dedicava silencioso à minha mãe. Comigo acontece parecido, mas Deus me deu voz. E assim faço ecoar no tempo o nosso amor por ela. Amor, festa e devoção. Ensinamentos dela para o bem viver”, diz Bethânia, “O meu canto é teu, minha senhora”, arremata batendo no peito cantando Estrela, do queridíssimo mineiro   Vander Lee. Daí em diante é desnecessário esmiuçar o espetáculo. O público, antes mesmo do amor nominal, já havia jogado o coração no palco.
Bethânia maximiza fatos. Eu creio em fatos. Nas rosas vermelhas de quarenta e cinco mil pétalas. Cantei, gesticulei, busquei adjetivos novos, mas não encontrei. Inscrevi novamente a palavra devoção no nome dela.
Amor, Festa e Devoção é para se guardar no escaninho da alma. Quem foi disse: “lindo”, “maravilhoso”, “belo”. Eu fico com as palavras de nosso saudoso Gonzaguinha: “E a vida o que é diga lá, meu irmão?!”

Texto: Olho de Lince – Waly Salomão

Quem fala que sou esquisita hermética
É porque não dou sopa estou sempre elétrica
Nada que se aproxima nada me é estranho
Fulano sicrano e beltrano
Seja pedra seja planta seja bicho seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta
Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
Experimento tudo nunca me iludo
Quero crer no que vem por ao beco escuro
Me iludo passado presente futuro
Revir na palma da mão o dado
Presente futuro passado
Tudo sentir de todas as maneiras
É a chave de ouro do meu jogo
De minha mais alta razão
Na sequência de diferentes naipes
Quem fala de mim tem paixão.

Ficha Técnica:

Direção e cenário: Bia Lessa
Roteiro: Maria Bethânia e Fauzi Arap
Iluminação: Lauro Escorel
Regência: Jaime Alem
Violões, violas e guitarras: Jaime Alem
Baixo e violão: Jorge Helder
Bateria e percussão: Carlos Cesar
Percussões: Marco Lobo e Reginaldo Vargas
Piano, acordeom e violão: Vitor Gonçalves

sábado, 14 de abril de 2012



Ora,  lá  vem  você  falar  da  solidão  do  homem  perdido  na  multidão
sem  rosto da  metrópole,
esmagado  à  sombra  dos  prédios  de  cinquenta  andares
limitado  a  perambular  entre  os a utomóveis.
Essa  solidão  estatística
desconhece  o  peso  dos  fantasmas,
ignora  o  amor  sem  intimidade,
não  mede  os  limites  de  um  quarto  vazio.
A  pior  solidão  não  é  a  do  abandono
mas  do  que  falta  ao  lado,
e, principalmente,
dentro.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

PLENITUDE



Daquela noite 
eu só queria o céu
Só queria estrelas
e aquela lua cheia
fazendo parecer solene
que o paraíso
festeja algo
Sentia por meu corpo falto
os carinhos mansos do vento
Deixava meus olhos
visitarem calmos
todos os cantos possíveis
do céu
Porque daquela noite
eu só queria estrelas
Porque daquela noite 
eu só queria mesmo
aquela noite inteira...

sexta-feira, 30 de março de 2012

Os Perfumes da Terra



Ultimamente, tenho ouvido muito sobre o "perfume" que uso.
Onde vou, sempre tem alguém que me pergunta o nome, outras pessoas não perguntam: afirmam.
Outro dia, uma amiga muito querida disse que meu cheiro lhe era familiar, depois disse que lembrava o cheirinho de sua avó. Pensei logo que havia mudado de patamar, não fui nem mãe e já fui promovida a avó!
Engraçado como "nossos cheiros" despertam sensações boas e outras, nem tanto. 
Nunca pude usar perfumes porque sou alérgica a eles, muito alérgica - apesar de adorá-los, mantenho uma certa distância desconfiada por aquilo que podem me causar. Uso uma colônia, das mais suaves e discretas assim como gosto e procuro ser, mas nunca gostei de dizer o que uso. Desde muito cedo me causava um desconforto, que eu mesma achava esquisito, alguém me sondar o que eu estava usando que cheirava dessa ou daquela maneira. É uma sensação de invasão a que tenho, hoje compreendo bem isso, e ninguém, pelo menos que eu saiba, gosta de sentir invadido.
Os últimos comentários, me trouxeram à lembrança um texto de minha Estrela Clarice Lispector, que fala exatamente disso e, talvez, minha solução seja tentar achar outra coisa que combine comigo para que eu possa continuar a ter o direito ao meu segredo.

Já falei do perfume do jasmim? já falei do cheiro do mar. A terra é perfumada. E eu me perfumo para intensificar o que sou. Por isso não posso usar perfumes que me contrariem. Perfumar-se é uma sabedoria instintiva. E como toda arte, exige algum conhecimento de si própria. Uso um perfume cujo nome não digo: é meu, sou eu. Duas amigas já me perguntaram o nome, eu disse, elas compraram. E deram-me de volta: Simplesmente não eram elas. Não digo o nome também por segredo. É bom perfumar-se em segredo.

LISPECTOR, Clarice. In: Aprendendo a viver. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. p.90.

domingo, 4 de março de 2012



Seria bom
ser só
exatamente
palavração.

não sentir falta
dos ruídos
das pessoas
não sós
tão nós

cegos
fartos
certos
fatos
relações = a fardos
falsas correntes
coerentes elos

belos atos
aparentemente
ou mentes?
falhos
módulos
necessidade móvel

lúdica
ilógica
de amar e ser.

Talvez tudo não fosse
melhor
existisse amor
se não.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia da gratidão


     Hoje é o Dia da Gratidão, dia de Reis. O que você tem a agradecer? Pare um pouco e pense em tudo o que você recebeu da vida. Primeiro, o privilégio de estar vivo. De poder ler e pensar. E o que mais?
     Podemos começar agradecendo por tudo o que somos e pelo que existe no mundo. Tem muita barra na vida, muita injustiça e feiura, mas é uma viagem estarmos atentos para o que é bonito, vivo, vibrante. Eu fiz a minha listinha, e quero agradecer especialmente aos meus amigos, gente querida que me acompanha e me apóia há muitos anos. 
     Para refletir um pouco mais sobre a gratidão, posto aqui um poema de Fátima Irene Pinto que é de uma simplicidade e de beleza ímpares que vale muito a pena. Depois da leitura pense: O que você destaca em sua lista de gratidão?

Oração do Matuto

Ói  Deus,
Nóis  tá  sempre  pedindo  as  coisas  pro  Sinhô
Nóis  pede  dinheiro
Nóis  pede  trabaio
Nóis  pede  pra  chovê
E  se  chove  demais
Nóis  pede  pra  pará
Mode  a  coiêta  num  afetá

Nóis  pede  amô
Nóis  pede  pra  casá
Pede  casa  pra  morá
Nóis pede  saúde
Nóis pede  proteção
Nós  pede  paiz
Nóis  pede  pra  dislindá  os  nó
Quando  as   coisa  cumprica
Mode  a  vida  corrê  mió

Quano  a  coisa  aperta  nóis  reza
Pedindo  tudo  que  farta
É  uma  pedição  sem  fim
E  quano  as  coisa  dá  certo,
Nóis  vai  na  igreja  mais  perto
E  no  pé  de argum  santo
Que  seja  de  devoção
Nóis  deixa  sempre  uns  merréis
E  lá  no  cofre  da  frente
Nóis  coloca  mais  uns  tostão

Mais  hoje  Meu  Sinhô
Bateu  uma  coisa  isquisita
E  eu  me  pus  a  matutá
Nóis  pede,  pede  e  pede
Mais  nóis  nunca  pregunta 
Comé  que  o  Sinhô  tá
Se  tá  triste  ou  tá  contente
Se  percisa  darguma  coisa
Que  a  gente  possa  ajudá
E  por  esse  esquecimento
O  Sinhô  tem  que  nos  adiscurpá

Ói  Deus,  nóis  sempre  pensa
Que  o  Sinhô  num  percisa  de  nada
Mas  tarvez num  seja  bem  assim
Tarvez  o  Sinhô  percisa  de  mim
Sim,  o  Senhô  percisa,  sim
Percisa  da  minha  bondade
Percisa  da  minha  alegria
Percisa  da  minha  caridade
No  trato  co's  meus  irmão

Nóis  semo  seu  espêio
Nóis  semo  Sua  Criação
Nóis  num  pode  fazê  feio
Nem  ficá  fazendo  rodeio
Nem  desapontando  o  Sinhô
Nem  amargá  o  seu  sonho
Que  foi  um  sonho  de  amô
Quano  essa  terra  todinha  criô

Ói  Deus,  eu  prometo
Vô rezá  de  ôtro  jeito
Vô  pará  com  a  pedição
E   trocá  milagre  por  tostão
Tarvez  eu  inté  peça  uma  graça
Mas  antes  vô  vê  direitinho
O  que  é  que  andei  fazendo  de  bão
E  se  nada  de  bão  eu  encontrá
Muito  vô  me  envergonhá
E  ainda vô  pedi  perdão.