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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal, Amor e Fraternidade


     
     Chegamos aos últimos dias de dezembro e o nervosismo paira no ar. Pessoas vão às compras, há aglomerações e filas. Entre presentes e festas ruidosas, mudos ressentimentos, comilanças e antiácidos  chegamos a mais um Natal. A data que simboliza a Paz e a fraternidade entre os homens desperta também inquietação e necessidade de consumo. Tudo isso é realmente um contra-senso.

     No entanto, faz sentido, porque há mais de dois mil anos depois do que ocorreu, o Natal ainda envia à uma história difícil de suportar: A História de Jesus. E essa história parece resistir a toda tentativa de enquadramento e falsificação, do fundo dos séculos ela nos lança um desafio: o ser humano pode superar os acanhados limites que impõe a si mesmo.

     Há muita violência, loucura, egoísmo e imaturidade circulando no reino dos homens, mas, há um raio de amor nunca submetido às dimensões espaço-temporais, que pode tocar a consciência de alguns e gerar uma vibração que inspire, esclareça e ilumine os caminhos...

     Há uma dor profunda nos corações humanos infectados pelo egoísmo, mas um raio de amor faz brilhar a esperança...
     Há muitas pessoas morrendo nesse instante, mas um raio de amor tocará seus corpos e lhes mostrará a fonte do brilho eterno...
     Há algumas pessoas aqui nos lendo agora e um raio de amor chegando cheio de inspiração em seus corações e mentes...

     Toda questão reside no enfoque que cada um dá em cima de cada coisa e a figura de Jesus ainda paira no ar porque Ele veio nos deixar através dos séculos o enfoque de suas mensagens. Quem afinal foi ou é este Homem que ainda hoje é capaz de desafiar-nos?

     Obviamente está além do nosso curto fôlego a tentativa de falar sobre Ele. Jesus é um “objeto” de fé ou uma experiência pessoal. Mas há como sentir sua presença em nós, pois em nosso coração pulsa aquela centelha imortal, herança cósmica da Divindade, que é capaz de fazer sentir o toque do infinito em nós mesmos; capaz de nos fazer conectar àquela presença incomensurável, àquela presença que não é branco, negro, amarelo ou vermelho; que não é cristão, mulçumano, judeu, induísta, taoísta ou espiritualista; que não é homem ou mulher; alto ou baixo, pobre ou rico, sábio ou ignorante. Não há definição possível! E se alguém diz: “ É o Amor Supremo!”, ainda assim é uma pobre definição humana. Por onde quer que um ser fale sobre isso, sempre faltarão recursos ou vocabulário para apreender algum conceito sobre o Divino. Somos o efeito de uma Causa Maior que não podemos compreender diretamente, mas que podemos sentir no âmago de nossos corações. Somos partículas da Grande Luz, ou como meus amigos pele-vermelha chamam-no: “O Grande Espírito”.

     Deus está em qualquer um, em qualquer lugar, em qualquer canto do universo. Está em todos os corações, em qualquer momento ou condição. Está em todo ser e toda vida, na Terra e em qualquer planeta, no plano físico ou extrafísico, dentro e fora de nós mesmos. Jesus despertou para isso e por isso veio nos trazer e deixar sua mensagem de Amor, Paz, Fraternidade e Igualdade entre os homens.

     Sabemos que é hora de cantar uma canção no céu dos homens da Terra para que Deus abençoe a nossa jornada. É hora de nos inspirarmos nos ensinamentos do Mestre e sermos simples em todos os nossos procedimentos, pois a verdade da alma exige pleno discernimento. É hora de viajarmos nas ondas do Amor pelos caminhos do coração.

     Os pés do Cristo deixaram dois mil e dez anos de marcas luminosas na poeira da trilha evolutiva, pois era necessário deixar uma rota clara para aqueles que vieram atrás. Seu coração ainda é um sol de amor maravilhoso que emana luz para todos os seres. Seu sorriso é terno como o desabrochar de uma flor, pois ele sabe que o ser humano é irmão da flor e no devido momento florescerá também e alegrará a vida.

     O amor sereno é a luz mais forte, pois é a própria força do Cristo trabalhando na alma dos que buscam a transcendência de si mesmos. Muitas vezes as experiências da vida podem nos espremer contra a dor, contudo Cristo continua trabalhando a favor de toda a humanidade por  Amor Sublime! Esse Amor procura por nós sempre, em qualquer tempo, em qualquer lugar, ele vem ao nosso encontro.

     Milhões de pessoas podem gritar por todos os universos e dimensões que esse amor não existe e que tudo se resume à experiência convencional das coisas, no entanto, há esse Amor jorrando por aí e ele não liga se há gritos de loucura no espaço ou não. Esse Amor é a força mais forte da Criação. Não cobra, não dogmatiza, não teoriza; apenas ama. É a partir desse Amor que o Universo ganha vida e brilho, esse Amor viaja além de toda luz, é como um oceano de sentimento, por onde os espíritos surfam rumo ao Criador. Quem quiser nadar nesse oceano luminoso de Cristo, que principie a aventura de rumar nessas ondas e adquira uma prancha adequada a tal desiderato espiritual.

     Não existe data nem hora marcada para efetuarmos mudanças dentro de nossos corações e nenhum livro sagrado que mande em nossos pensamentos. Não precisamos de catástrofes externas para crescermos, pois na maioria dos casos já existem grandes catástrofes internas nos impulsionando ao crescimento.

     Procuremos ser mais fraternos uns com os outros, pois a Fraternidade é a força que universaliza o Amor. A Terra ainda não a conhece em toda a sua profundidade, no entanto, o tempo impulsionado pelas bênçãos de Deus deverá glorificar essa intimidade entre os homens. Nós trazemos as sementes da Fraternidade pura, mas elas nascerão no tempo apropriado. A argila dos corações se encontra sem condições de fazê-la prosperar e a água que enriquece o solo dos sentimentos somente poderá vir dos próprios indivíduos. Essa é a Lei. Determinadas coisas como esta não podem ser doadas, para que o esforço próprio não se desvalorize, poderemos ajudar muito com o exemplo daquilo que falamos. 

     O preço do afeto é exorbitante, mas não se trata de moedas sonantes que circulam nas mãos humanas. É o ouro do coração. O nosso empenho maior, é o de granjear amizades. Que cada um possa multiplicar amigos em todos os campos, eis o início da Fraternidade Universal, onde a cor não impede nem a raça enfraquece, onde os bens não esfriam os laços de entendimento, onde a sabedoria não cria divisas entre as criaturas, onde as posições não empanam os contatos das pessoas. Somos todos da mesma procedência e, certamente, estamos fazendo de um rebanho, por laços que a vida ligou, em nosso próprio benefício. 

     Não pode existir a felicidade entre os homens, sem carinho, sem troca de amor de uns para com os outros. Quando os homens e almas moradoras da Terra sentirem as necessidades de uns para com os outros, quando tivermos a certeza de que o semelhante é a nossa continuação, quando a caridade começar a ser o dever diário e um prazer de cada instante, quando o perdão for a força das intenções para harmonizar os seres, quando o amor for apreciado como indispensável para o alimento do espírito, eis que aí se aproxima dos homens, senão das nações, a Fraternidade, que tanto foi falada e esperada pelos povos. E quando se aproximar esse dia, os céus vão se regozijar e os anjos cantando louvores pela alegria das criaturas e felicidade dos corações. Deus espera de todos nós essa conquista, porque sabe que vamos alcançá-la pelos múltiplos esforços, em seqüências sem conta.

     Não há hora de se praticar a Fraternidade. Toda hora é hora de ser feliz, e como todo serviço do bem tem suas reações pela evolução em que se encontra a Terra, o exercício da Fraternidade tem, igualmente, seus percalços. As contradições virão para que se esfriem os teus mais altos ideais. Não obstante, se persistimos até o fim, conquistaremos nossa tranqüilidade de consciência, consolidada em nossos corações. 

     A Fraternidade é uma feição tão divina que não nos compromete. Podemos ser fraternos com alguém que ignora essa ação superior, podemos ser fraternos com os ofensores de todos os tipos, pois é uma delicadeza que não apoia a perversidade nem alimenta a ignorância. É força de Deus que deixa em quem recebe uma luz agradável ao coração, como uma gota de esperança e paz. Deixa em quem transmite um bem-estar indizível, que nos promete a riqueza da alegria e da felicidade. A fraternidade é sol composto de todas as virtudes de Deus e, por certo, deverá ser patrimônio dos homens, assim como o amor universal é atributo do Criador. 

     A Fraternidade haverá de unir os povos, para que eles levantem uma só bandeira na Terra, aquela que esquece tudo, para somente amar... amar sem condições, diante de tudo e na frente de todos, buscando a Deus.

     Essa foi a proposta que Jesus veio nos deixar, vamos à cada dia ser mais felizes, mais fraternos, mais justos...

         "Vamos tranqüilamente entre o tumulto e a pressa, lembrando-nos da paz que pode existir no silêncio. Sem alienação, vamos viver tanto quanto possível em bons termos com todas as pessoas. Digamos calma e claramente nossa verdade, e ouçamos os outros, mesmo o pobre de espírito e o ignorante; eles também têm a sua história. Não nos comparemos com ninguém; pois corremos o risco de tornarmos vaidosos. Sempre há alguém maior e menor  do que nós. Desfrutemos nossos projetos assim como as realizações. Não sejamos cegos no que concerne à virtude que existe; vários indivíduos buscam os grandes ideais e em toda a parte a vida é repleta de heroísmo. Procuremos ser nós mesmos, sobretudo, não simulemos a amizade! Tampouco sejamos cínicos no amor, porque em face de qualquer esterilidade e de qualquer desencanto ele é tão eterno quanto a relva. Procuremos fortalecer a prudência de espírito para nos proteger em caso de infortúnio repentino. Mas não nos aborreçamos com quimeras! Numerosos temores nascem da fadiga e da solidão... Para além de uma disciplina sadia, sejamos ternos conosco mesmos. Somos filhos do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas: temos o direito de estarmos aqui. E quer percebamos ou não, o universo se desenrola sem dúvida como deveria. Estejamos em paz com Deus, qualquer que seja nossa concepção Dele e, quaisquer que sejam nossas obras e nossos sonhos, guardemos no desconcerto ruidoso da vida a paz em nossas almas. Com todas as suas deslealdades, as suas tarefas fastidiosas e os seus sonhos desfeitos, o mundo é belo! Prestemos atenção... Tratemos de ser felizes"

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Poema do Menino Jesus



Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.


Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.


E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.


Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.


Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.


Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.


Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.


Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.


Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.


Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?


Alberto Caeiro / Fernando Pessoa

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009



Eu vou voando pelo mundo
Tentando encontrar a minha estrela
Que se perdeu no universo
Sem voltar para me buscar

Eu ando pelas existências
Procurando um caminho
Para mais tarde, quem sabe
Contar minhas experiências

Eu vivo tão livremente
Que me perco no infinito
Escutando tantos choros
Mas nunca o seu grito

Eu vou assim embora
Porque o dia amanhece
Minha estrela reaparece
E minha fuga é agora

Então, adeus paixões de outrora
Meu futuro chegou
A tristeza dize-me adeus
Eu vou pelo universo afora...





terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Aprimorar do Tempo


O passar dos anos
foi lapidando
a beleza
deste homem
que por dentro
sempre achei lindo
que por fora
sempre Betho...



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Diferença Crucial



Já falamos
a mesma fala...
Já tivemos os pés
no mesmo chão...
Já amamos as
mesmas causas...
Já vivemos
a mesma ilusão...
Já sentimos
os mesmos medos...
Já cometemos
os mesmos erros...
Mas hoje,
não comungamos o mesmo pão...



domingo, 6 de dezembro de 2009

Nosso Amor


Nossas mãos abraçadas
falavam de coisas
que as palavras
não conseguiam descrever...

Nossos dedos entrelaçados
comungavam em segredo
afetos e desejos
de uma forma tão singela
que só ao nosso amor
cabia conceber...


Um Minuto Depois


Partem-se as correntes
e um raio arrebatador
explode estupidamente
como se fossem mil trovões...

Um minuto depois
um silêncio de morte...

Uma luz púrpura e azul
um beijo na liberdade
um abraço na vida
e um coração leve
livre de tudo...



PARADOXO


Sombria, inerte e pálida...
Pensando, soa-me belo
Distante...
Destino de retirante...
Descanso merecido em calma...
Se perto, soa-me morte
Destino déspota!
Desmerecida sorte...
Sem tempo para reclames...
Tristeza infinita e pálida...
Ruína de todos os nossos planos!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


Deixou poemas
e seus sentimentos
nelas perpetuados...

Deixou habitando vidas
as partes do corpo
aproveitáveis...

Levou somente
o que foi preciso
e muitas, muitas saudades...



FATAL



Sentiu o impacto do eco
sentiu o fogo do tiro
queimando sua carne...

Sentiu o cheiro do seu corpo
expelido a esmo...

Viu em seus olhos
suas próprias lágrimas...

Sentiu fraqueza
sentiu coragem
sentiu vontade de viver...

Sentiu em seus lábios
o gosto do seu último beijo
e percebeu que a vida
naquele instante
batia suas asas...


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lembranças


Lembro-me de ti
na noite do temporal
como se fosse um oásis de esperanças


Lembro-me de quando te vi
eras mais um passageiro
no mesmo autocarro
que ao meu lado
lutava para chagar ao fim da viagem


Lembro-me de ti
quando a aragem serena
me trouxe o perfume suave do teu corpo


Lembro-me que quando ouvi a tua voz
ela me pareceu mais um grito na multidão
atribulada e ululante
na vida agitada da cidade
na espera da conquista do dia seguinte


Lembro-me de ti
da doçura do teu olhar
ardente na gota de cada pupila


Lembro-me que quando olhei de frente o teu rosto
os teus olhos firmes
mágicos, serenos, magnéticos
me pareceram duas estrelas luminosas
a inundarem de luz o firmamento


Lembro-me de ti
quando após acalmar meus ânimos
me pareceste raio de luz a romper a noite escura


Lembro-me quando te tornaste canção
amigo, companheiro
assumiste dimensão humana
caminhando lado a lado, estrada além
em rumo nunca sonhado, mas ilusão.


Lembro-me de ti...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


Tudo o que sei é o que ouço

Tudo o que sei é o que leio

Tudo o que sei cabe no bolso

Tudo o que sei estou sempre esquecendo

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Minas Gerais



Quando falo de Minas

Falo de amigos meus...

Falo de minha mãe...


Quando penso em Minas

Penso em meu avô e Drummond...

Penso em doce com queijo

em montanhas, belos horizontes e muitos cafezais...

Quando me perguntam de Minas

falo coisas gerais...

Um golinho de café com pão de queijo...

Um bocadinho de estórias...

Um bocadinho de uais...

Quando penso nos meus amigos de Minas

Sinto um trem bão demais

Penso em doce com queijo

Em montanhas

Em Belos Horizontes

E em grandes cafezais

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


O céu está iluminado por um mundo de lua

Brilho e cheiro de lua

Arco-íris de meia lua inteira

O céu tem cores...

Uma brisa lambe a minha face

O orvalho vem caindo no começo da madrugada

As estrelas presenteiam o céu de cores

Cara de beijo molhado

Abraço apertado

Música e céu

Olhar o infinito, finito

Bobeira, sorrisos

Carinho, calor...

Amor...

Saudades e pensamentos passados em meu olhar

Os lábios erguiam seu calor majestoso

A música do sorriso

Tudo isso me trouxe você

Amo-te


domingo, 4 de outubro de 2009


A vida deve ser cuidada e enaltecida;
devem ser cultivadas todas as possibilidades que encerra
e fazer delas um jardim.
Ainda que seja apenas para se ter a alegria
de recolher de quando em quando,
de cada planta que a própria mão semeou,
cultivou e plantou, uma flor.
O conjunto de todas essas plantas serão as obras realizadas;
as flores, as consequências úteis dessas obras.
Mas a planta principal, a planta humana,
na qual se concentram todos os movimentos
da concepção interna,
essa, merece o maior dos cuidados e a maior atenção.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009


Há uma quase revelação


na boca das pessoas


Há um susurro interior,


muito interior


tão profundamente interior


que desponta nos olhos


Há um qualquer tênue fio de medo


entre o calar e o dizer...


Pranto para a rebentação


tanto mais quanto grosso o embotamento


Há um quase atrevimento nas atitudes e uma


firme convicção gerando


o resguardo das ideias




sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Lua De Uma Tarde...



A lua de uma tarde


é a mais completa sensação de abandono!



A esmo nos azuis do dia, como se ela



tivesse entrado atrevida num quarto escuro



e repentinamente lhe acendessem a luz!



A lua de uma tarde!



Não me canso de olhá-la



Mesmo que ela me faça uma careta rabugenta e sem graça



eu a protejo em meus olhos e a levo comigo



até o semblante das pessoas



E elas se surpreendem!



Porque ao invés de virem



a lua no céu e a noite,



ela está em meus olhos



e é dia!


A lua de uma tarde...








sexta-feira, 17 de julho de 2009


A noite tem milhares de olhos e o dia tem só um,
mas a luz do mundo todo morre quando o Sol se põe.
A mente tem milhares de olhos e o coração tem só um,
mas a luz da vida toda morre quando acaba o amor.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Teu Corpo

O teu corpo é meio, ou quase nada, não importa

Teu meio é a alma!


Mas o corpo é o braço


e teu braço é a mão


E tua mão é a boca


que são os olhos de teu corpo


Teus olhos são o corpo de tua boca


Tua boca te incorpora


seu corpo olha


Teus olhos comem o mundo


E você se entrega e integra ao mundo


E sentirá o mundo sobre você


Mas perceberá que ele pesa apenas


o peso de uma folha


apoiada em teu colo...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Manto de Poesia


Eu preciso de poesia para viver, seja em forma de versos, vinho, loucura, dádiva, carícias verbais, música, amizade, oração ou saudade. Como os mais inquietantes versos, eu resfolego, respiro ao fim de cada frase, tropeço em palavras tortas e duras como pedra. Mas posso chegar às alturas com poemas que acariciam a pele com o toque de penas macias.


Eu apenas preciso de poesia como do ar que respiro. Sem inspiração, eu não consigo ser mulher. Sem poesia, eu só sou um soldado a digitar vogais, consoantes e pontos perdidos no espaço branco da tela de um computador. Com poesia , porém, eu consigo ocupar o espaço feminino, escrever sobre saias rodadas e flores nos cabelos, sobre rendas e novelos de lã. Pela poesia, posso até costurar e bordar. Posso tecer como as aranhas. Ou ser uma tecelã ancestral diante de uma roca de fiar.


Pela poesia, eu sobrevivo aos séculos, resgato o poder dos antepassados, miro-me no espelho do amanhã, recebo, com alegria, o livro com dedicatória de um amor incondicional recebido pelo correio e as fotos da meninice enviadas por e-mail pela amiga de infância, recebo ainda, o ramo de lavanda que a amiga da montanha colheu para receber-me no domingo. Pela poesia, amo acima de todas as coisas, sem me importar com a idade ou com o tempo. Eu me desnudo inteira, sem medo ou vergonha.


Como poeta, posso escravizar com meus versos, posso pregar na cruz em meus braços abertos. Posso torturar ou seduzir com a doçura ou a aridez de palavras desnorteadas, imprudentes, ousadas, e pungentes. Posso dissecar com os olhos do coração.



Como mulher , posso pedir para revelar o mistério contido no âmago das matryoskas russas.Ou quem sabe participar do milagre do pão e então,celebrar a natureza que ainda sopra e redime as mulheres com o vento da bem-aventurança. Como mulher, coberta de poesia, posso me encantar com a dança cigana, ver o futuro nas cartas do tarôt ou perguntar porque o céu do meu bairro é sempre estrelado nas noites de Santa Clara. Eu posso, inclusive, pedir um sabonete com o perfume e poder de transformar mulheres endurecidas em fadas voadoras.



Como poeta, posso me despir de todo o pudor e dar a cada mulher uma missão especial, de não deixar que a natureza feminina seja aprisionada. Como mulher, posso transformar em poesia tudo o que toco. Mas, como poeta, também posso ser mãe de muitas crianças e viver para sempre num conto de fadas. Como mãe, posso continuar sonhando com filhos poetas, que podem fazer a diferença num mundo estéril. Como mãe, posso compactuar com todas as mulheres que sentem frio de amar. Como mãe, posso achar que um filho precisa de versos, de orações, de música, de máscaras para viver entre tantos discos arranhados, num país feito de sobrenomes.



Mas eu também posso ser ao mesmo tempo, poeta, mulher e mãe, ou quem sabe, espantar as assombrações que insistem em aparecer mesmo depois de passado o Dia das Bruxas. Como poeta, eu bem que poderia ser uma bruxa e colocar no meu caldeirão o sorriso de Dona Cida para não me esquecer que ela chegou aos 47 anos com simplicidade e elegância, e fazer uma alquimia para reavê-la.



Como mulher, posso colocar poesia no trabalho quando os textos saem leves, fluidos, quase etéreos. Como mãe, posso pôr cores mais pesadas, tons de vermelho e alaranjado, posso pensar que o paraíso é roxo, mas também ver nos olhos castanhos do “filho” Renan que a cada dia ensina coisas que ainda não sabia, principalmente, quando ele disse ter vindo ao mundo para ajudar-me ser uma boa mãe e não mais uma mulher perdida em metáforas.

Como poeta, posso me permitir a pedir que me cantem um blues da liberdade de todas as mulheres, inclusive, cobrir a cabeça com um lenço em sinal de respeito a uma voz que mergulha no mais suave de todas nós.


Como mãe, posso criar filhos felizes, sem a droga da competição e do poder que consome todos os sonhos. Como mãe posso aplicar os filhos na droga do amor, da compaixão e da solidariedade. Posso também ensiná-los a simplicidade da vida, com gosto de brigadeiro, pipoca e algodão doce. Posso também conversar por telefone com Delminha, que mesmo morando em Sampa, distante de BH, para pedir emprestada a felicidade escancarada da infância.


Como mulher, posso me entregar à paixão desmedida, dessas que tiram o ar e o chão. Pode ser tão singela ou fatal que só a poesia redimirá de mim mesma. Com poesia, afinal, não tenho medidas. Posso ser um único verso ou um poema tão longo que será declamado por toda a minha vida.