Páginas

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Brilho De Uma Estrela



Se uma estrela se apagasse nas alturas

Durante eras e eras

Sua luz ainda viajando do céu para baixo

Brilharia aos nossos olhos mortais


Assim, quando morre um grande homem

Por anos além da nossa compreensão

A luz que ele deixa atrás de si

Brilha sobre o caminho dos homens


Ao meu amado Vovô, "Chicão"

Presença Imortal


Profundamente inconformada, Mamãe
avistei numa manhã de sol
pelas ruas primaveris
uma romaria de letras aduncas e tristes
fatigadas por tua ausência

A morte cantava a poesia do derradeiro

Empalideci lacrimosa
ante a eterna rigidez do teu corpo
mas me derreto inquietamente ensolarada
pela imortal vitalidade de tua alma
de olhos cada vez mais visionários
e boca cada vez mais falante, audaciosa

Te sentirei saudades, Mamãe, 
mas gostarei dela
me fará conviver contigo
no vácuo irreversível
de tua apenas presença imortal




Entendo menos do que dei à minha mãe e muito mais do que ela me deu.
Amor, ah, sim, e asperezas sistemáticas que desgastaram as arestas brutas de algo promissoramente valioso e digno de ser polido em mim. Ela proporcionou provas difíceis de muitos tipos e um puro respeito pela sobrevivência - não dos mais fortes - mas dos mais sábios, dos mais devotados à vida, à terra, aos entes queridos, incluindo-se aqueles mais difíceis de serem amados e os que precisam de amor mais do que qualquer outra coisa.

Através da vida que levávamos, aprendi o dom, a lição mais árdua de se aceitar, e a mais poderosa - ou seja, o conhecimento, uma certeza absoluta de que a vida se repete, se renova, não importa quantas vezes seja apunhalada, descarnada, atirada ao chão, ferida, ridicularizada, ignorada, desprezada, desdenhada, torturada ou tornada indefesa.

Com minha mãe querida, aprendi tanto sobre o túmulo, sobre encarar os demônios e sobre o renascimento. Sei que aqueles que sob certos aspectos e por algum tempo estão afastados da crença na própria vida acabam sendo os que perceberão que o Éden está por baixo do campo nu, que sementes novas vão primeiro para os lugares abertos e vazios - mesmo quando esse local é um coração de luto, uma mente torturada ou um espírito devastado.

Qual é esse processo do espírito e da semente, cheio de fé, que toca o solo nu e o torna rico de novo? Não tenho a resposta completa. Só sei o seguinte: aquilo a que dedicamos nossos dias pode ser o mínimo do que fazemos, se não compreendermos também que algo espera que a gente abra espaço para ele, algo que paira perto de nós, algo que ama, e que espera que o terreno certo seja preparado para que ele possa se revelar.

Estou certa de que, enquanto estivermos aos cuidados dessa força de fé, aquilo que pareceu morto não estará morto, aquilo que pareceu perdido também não estará mais perdido, aquilo que alguns alegaram ser impossível, tornou-se nitidamente possível, e a terra que está sem cultivo está apenas descansando - à espera de que a semente venturosa chegue com o vento, com todas as bênçãos de Deus.

E ela chegará.