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terça-feira, 14 de junho de 2011

QUE SERIA DE MIM SEM A FÉ EM ANTÔNIO


Durante o mês de junho comemoramos as tradicionais Festas Juninas, fato que me faz voltar aos tempos de menina e recordar as grandes festas promovidas por minha mãe.
Noites de festas muito animadas, divertidas, coloridas, alegres, com as fogueiras que não podiam faltar e claro, as comidas típicas. Noites que a rua na qual morávamos era fechada e a festa corria solta, animada pela música tocada por um sanfoneiro e por tudo que correspondesse às três datas do calendário junino.
Mamãe promovia essas festas pelo simples fato de amar a época e por sua fé e devoção no Santo Casamenteiro que, segundo ela, Santo Antônio nunca lhe faltou toda vez que a ele recorreu. Na época, o que fazia sentido para mim eram mesmo as festas, a quadrilha e as quitandas tão amorosamente preparadas por D. Cida, que se tornaram tradicionais em nosso bairro - todos sabiam: dia 13 de junho, independente de ser dia de semana, era comemorado religiosamente. Os dias 23 e 29 de junho São João e São Pedro, comemorava-se sempre no final de semana mais próximo das datas. 
Hoje sinto falta da alegria desses dias tradicionais comemorados em São Paulo, principalmente da alegria e animação contagiantes de minha mãe que estão carinhosamente guardados para sempre em minha memória e em meu coração.
Ontem, - sei que estou com um dia de atraso, mas nunca é tarde - foi  dia de Santo Antônio e em homenagem à devoção de minha mãe (creio que acabei herdando alguns traços dessa devoção, tamanha era sua fé ) deixo aqui um hino e uma canção interpretados por ninguém menos que "Minha Deusa!" - Será coincidência?  Creio piamente que não, afinal, "que seria de mim meu Deus, sem a fé em Antônio?!"






segunda-feira, 13 de junho de 2011

PASSAGEM DAS HORAS - 123º ANIVERSÁRIO DE FERNANDO PESSOA


Não sei sentir, não sei ser humano,
não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,
meus irmãos na terra.

Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.

Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.

Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.

E fiquei tão triste como se tivesse querido e não conseguisse.

Amei e odiei como toda gente.
Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.
Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos.
Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,
a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
 a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, 
de sair para fora de todas as casa, 
de todas as lógicas, de todas as sacadas
e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.

Passagem das Horas - Álvaro de Campos 



DIFERENCIAIS


Difícil entender certas coisas
Certas manias
Certas pessoas e poesias
Difícil entender
certos dias de chuva
Certas barrigas vazias e cheias
Difícil entender
as diferenças do mundo
O primeiro e o último
O pesar apesar dos absurdos

domingo, 12 de junho de 2011


Você estava ali
onde fui por acaso
quando nem sabia
se você morava
se você existia

Sempre tive vontade
de morar ali - aqui
no lá de você
no longe
onde a distância
faz ladeiras
cava abismos
solidão de tanto
não ser.

Nós estaríamos sendo
aquilo tudo
duas setas se encontrando
dois seres se amando
tudo aquilo
que sempre
quisemos ser
um para o outro.

Pena que você não seja
que não veja
que não esteja

não acredite tanto quanto eu
nisso tanto
nisso tudo
no tanto que existe -
há tanto tempo.