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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Lição de Bem Viver



Meu avô sempre foi uma pessoa feliz e brincalhona. O tipo de avô que toda criança quer ter. Era uma pessoa muito especial, vivia sorrindo e, em toda minha vida nunca o vi de mau humor. Sempre muito alegre e  animado , era capaz de começar uma "festa" pelo simples prazer de estar vivo.

Vovô era uma pessoa muito otimista que repetia sempre alguns chavões como: "Eu sou filho do Dono do Mundo, portanto seu herdeiro, herdeiro deste céu azul e deste verde sem fim que há nesta terra...", ou ainda; "Se eu me tirar de mim eu morro. Eu sou a pessoa mais importante pra mim mesmo".

Sempre amei meu avô, admirava-o muito, mas talvez tivesse uma visão infantil, limitada e superficial do que realmente significava aquele homem. Sempre observei o comportamento dele em relação a tudo, observava que fazia todo mundo sorrir em qualquer lugar que estivesse e nunca conseguia ficar calado.

Com os amigos ele conversava horas a fio sobre os mais diferenciados temas; com as crianças sempre tinha uma estória, um causo a contar com uma linguagem própria e todos ficavam entusiasmados com sua presença simples, porém, marcante. Assim, ele sempre conseguia "roubar toda a cena" onde quer que fosse.

Apenas podia passar as férias (algumas delas) como meu avô devido a distância que nos separava e também à algumas circunstâncias, mas ainda assim, os momentos em que estávamos juntos eram para mim sem igual, momentos marcados pela qualidade e considerados mágicos, tão mágicos que duram até hoje em minhas constantes lembranças. Vovô era uma dessas figuras extremamente ricas em seu mundo interior e que sabia expressar essa riqueza. Uma das coisas que mais me chamava atenção era que ele jamais tivera a oportunidade dos grandes acadêmicos e no entanto, era extremamente culto, cultura que chegava próxima à erudição, cultura que ia à frente de seu tempo e que poria muitos no chinelo, mas em se tratando de vovô, ele jamais faria alguém, fosse quem fosse, sentir-se inferior porque ele via em todos o seu igual e na minha opinião, não só sua inteligência e cultura eram à frente de seu tempo mas, costumo dizer sempre que era um homem à frente de seu tempo. Os momentos em que tive a oportunidade de passar junto dessa figura maravilhosa e extraordinária foram muito felizes e trazem sua marca em minha vida.

Foi justamente num mês de férias que aquele homem que já tinha um espaço privilegiado em meu coração, ganhou um terreno enorme e passou a ser ímpar dentro de mim. Nesta época, meus avós moravam em lugar maravilhoso, longe da cidade e, portanto, longe de tudo. Vovô tinha tido um mal estar e precisava consultar um médico, mas como estávamos só nós quatro (meus avós, eu e um primo adolescente), a pedido de minha avó meu primo foi acompanha-lo até o posto médico que havia mais próximo e eu resolvi ir junto com eles.

No caminho notei que ele cumprimentava a todos por quem passava com cortesia e carinho, mas nem sempre era correspondido, meu primo o repreendeu mas vovô não se importou. Meu coração questionava o porquê daquele homem estar tão feliz. Estávamos andando na chuva forte do verão que tinha nos pego desprevinidos e ele só sorria, eu na minha inocência ou ingenuidade não sei dizer, achei que vovô estava gostando daquela chuva inesperada, afinal, tudo para ele era motivo de festa, olhava para ele e sorria também, mas meu primo que tentava inutilmente desviar-se de todas as poças d'água apesar de encharcado, não via nenhum motivo para estar sorrindo, ainda assim, olhava meu avô e ele continuava sorrindo e eu o acompanhava naquele sorriso tão natural e espontâneo.

Ao chegarmos ao posto médico encharcados depois de mais de uma hora de caminhada, tivemos que esperar horas, a fome já se fazia presente e enquanto todos se debatiam em reclamações, vovô apenas sorria. Meu primo já havia perdido a paciência e já não podia conter toda a sua irritação, eu já estava cansada quando de repente, a atendente avisou que o médico não poderia atender a mais ninguém. Vovô fechou os olhos por um tempo, respirou fundo, como que a buscar forças e quando achamos que ele ia ao menos protestar, ele apenas sorriu e fomos embora.

Para o meu primo aquilo tinha sido a gota d'água, foi demais para ele vovô não ter sequer reclamado ou reagido, sem notar ( ou fingir que não notava) o que se passava, vovô seguiu com suas colocações e exposição de idéias, brincando conosco e sorrindo. A chuva havia cessado e ele continuava coversando com a gente na volta para casa, meu primo se mantinha calado ma, após atolar o pé em uma poça de lama, ele explodiu. Com toda veemência ele disse ao vovô tudo o que pensava. Disse-lhe que era um bobo por sorrir para tudo; que a vida necessitava de pessoas fortes e ele parecia um covarde. Disse-lhe que desperdiçava sorrisos demais, pois as pessoas faziam caretas para ele e, por não enxergar bem (ou fazer que não enxergava) ele nem sequer dava conta. Disse-lhe ainda que ele era muito tolo por desperdiçar alegria e atenção com quem não merecia.

Vovô havia parado para escutar todas aquelas asneiras e eu, indignada com tamanha falta de sensibilidade estava com tanta raiva que tinha vontade de partir para cima daquele moleque atrevido, afinal, quem ele pensava que era para falar com meu avô daquela maneira?

Nesse momento tive a impressão de que aquele moleque ia apanhar, bem que merecia, mas vovô deixou que ele se esvaziasse por completo e com carinho o abraçou, perguntando-lhe o que era ter força. Antes que meu primo pudesse responder-lhe, prosseguiu, dizendo que força o homem já havia demanstrado ter, quando escravizou o próprio homem, quando se sobrepôs à natureza, dominou e arrasou vidas em função de sua própria, quando desrespeitou a si mesmo e ao outro em busca de ser feliz. Isto era ter força, e não, ser forte.

Ser forte era duelar consigo mesmo. Era conhecer-se e aceitar-se como ser em evolução buscando sempre a luz que há dentro de si e que, por um obstáculo removível, provoca uma sombra provisória dentro de cada um de nós.

Disse também que o importante para ele, era que sorria com toda a capacidade que tinha para desejar o bem. O que o outro fazia com o sorriso que ele dava, não lhe interessava saber.

Vovô beijou o rosto do meu primo e falou bem devagar, talvez, para que o ouvisse bem: "Na vida há sempre escolhas; opte sempre por ser feliz".

Quanto ao meu primo, não sei o que ele tirou disso, mas quanto a mim que assisti a tudo, naquele momento eu pude reconhecer naquele homem, um ser único, inteiro e compreender com toda a minha ingenuidade ou infantilidade porque eu o admirava tanto, porque eu o amava tanto, ele realmente era digno de toda a minha admiração, de todo o meu amor e ainda o é.

Hoje, muitos e muitos anos após esse fato, quando sorrio para alguém que não consegue corresponder, me lembro do meu avô e sempre que posso vou beijar-lhe a testa para receber um sorriso. Ainda não possuo tantas virtudes quanto ao meu amado velho, talvez nem chegue a possuí-las, mas sei que quando estou aborrecida e sou incapaz de sorrir me lembro desse episódio capaz de renovar meu coração na certeza de que sou eu é quem deve "optar por ser feliz" e essa opção é  o maior exemplo que tenho de ser livre, porque nesta vida só somos livres sendo felizes.

Por que me lembrei de contar essa história justamente hoje?

Porque hoje, 25 de dezembro meu avô também era o aniversariante do dia e como na minha opinião, a liberdade é o dom da escolha mas, a liberdade suprema é ser quem somos e como disse meu querido; "conhecermo-nos e aceitar-nos como seres em evolução", quer melhor dia para refletirmos sobre a morte do egoísmo, da falta de fé, da ganância, do ódio e deixar resnascer a compaixão, a caridade, a fé e o amor?


Dedicado ao avô mais fofo, doce, lindo e amado do mundo
Francisco Garcia (Chicão)


Hoje, de algum lugar

Longe destas terras,

Há um doce olhar só para você.

Um olhar especial, 

De alguém especial

De distantes origens.

Um olhar de um justo coração

Que pulsa só a vida.

Que sorri porque ama livremente

Sem julgamentos, sem conceitos,

Sem prisões.

Hoje, como ontem,

Longe destes céus,

Há um encantado olhar só para você.

Nesse olhar, neste fitar,

Vai para você a magia da luz,

A simplicidade do perdão,

A força para comungar a vida

E a esperança

De dias mais radiantes de paz.

Hoje, de algum lugar dentro de você,

Alguém que já o amou muito

E ainda o ama,

Diz para você que valeu a pena

Ter estado nestas terras,

Sob estes céus, 

Falando de união, paz, amor e perdão,

Só para você saber

Que hoje é Natal,

E poder sentir a força

Que faz você sorrir

E continuar o caminho que um dia

Aquele doce olhar iniciou para você!

Paulo Kronenberger

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

NATAL




É Natal. Momento de parar e virar a página de mais um capítulo na história da vida. Uma data, um dia, um mês, um ano; não importa. Importa a vida que corre pelos dias do calendário chamando você e a sua atenção para a necessidade de refletir.

Onde está a alegria, onde está o sorriso? Onde estão as renas a embalar o trenó e o Papai Noel a distribuir presentes e gargalhadas: “Ho, ho, ho...”? Onde a chaminé e a lareira, onde a neve charmosa dos filmes de Natal no Tio Sam? Onde o pinheiro e as bolas, o presépio e o retrato do Jesus Menino a ser presenteado na estrebaria?

A manjedoura dos dias atuais vem desiludir o homem século XXI: nem só de barbas brancas e vermelhos trajes é composto o Natal do homem-celular, do homem-internet, do Adão em crise de auto-estima.

Não mais presépios, nem Josés de cera, nem Marias de barro. Não mais Jesus criança, estrela cadente, nem incenso ou mirra já decadentes. O Natal em Belém, no lombo do jumento, agora afigura-se outro: novo, transparente, globalizado - virtual, on-line em cada casa, muro ou apartamento da morada humana. Não mais chaminés; janelas. Nem candeias na noite escura, mas manhã gloriosa de novas realizações.

É tempo de Natal: renascer em novo dia, com sol cá dentro, iluminando consciências para um novo tempo. Surgindo das torres de fumaça, das montanhas ou das estradas fulgurantes, o Jesus de hoje não quer reis magos. O homem - Jesus de hoje quer as luzes de um novo pensar, a leveza saneadora de um novo amar, o encanto tão sonhado de um prazeroso viver.

Como, Noel? Mostre-me o que fazer para, no fim do ano, haver presentes a receber!

Ah! Menino meigo te digo, não há fórmula nem mistério para viver o sonho amigo. Buscar no outro a aliança rumo ao vôo inaudito; descobrir paisagens de um vigor desconhecido, que abastecem de vida a vida vazia - só no coração, Menino, só na viagem que não tem preço nem horário, velas nem bagagem... É somente no teu próprio mundo embarcando, com alma e coragem, Menino, que teu reino de paz será construído. E ainda, se te esforçares um pouco, poderá ouvir o apito que soa constante, lá no fundo, quase perdido, do trem dizendo: Há dois mil e oito anos tenho partido...
Estação 2009, lá vamos! Rumo contente, leme avante - guia-nos o Menino-Mestre Jesus, velas pra frente, corações içados, singrando os mares que tanto precisamos ver navegados.