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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011



Minas gerou
em mim
uma geral

um acorde
corda desafinada
discordante
de um eu ausente
concordante
neste presente

dói saudade
dissonante verdade
constante mentira

retira
este meu sentimento
lamento meu

vou te malquerer
te maldizer
me humilhar

eu vou te amar
te procurar
os dias contar
até você reaparecer


domingo, 11 de dezembro de 2011

Quando todo o país encerram as homenagens, mais que merecidas, a Clarice, eu a reverencio como faço à cada momento em que não me canso de ler e reler sua obra. Ela é minha "Estrela" maior. À cada nova leitura descubro e redescubro, leio pelo prazer quase inocente de redescobri-la sempre, espantosamente atual, humana e divina...
As últimas palavras de Clarice antes de sua partida:

"Sou um objeto querido por Deus. E isso me faz nascerem flores no peito. Ele me criou igual ao que escrevi agora: 'sou um objeto querido por Deus' e ele gostou de me ter criado como eu gostei de ter criado a frase. E quanto mais espírito tiver o objeto humano mais Deus se satisfaz..
Lírios brancos encostados à nudez do peito. Lírios que eu ofereço e ao que está doendo em você..Pois nós somos seres e carentes. Mesmo porque certas coisas - se não forem dadas - fenecem. Por exemplo, junto ao calor de meu corpo, as pétalas dos lírios se crestariam. É por isso que me dou à morte todos os dias. Morro e renasço.
Inclusive eu já vivi a morte dos outros. Mas agora morro de embriaguês de vida. E bendigo o calor do corpo vivo que murcha lírios brancos.
O querer, não mais movido pela esperança, aquieta-se e nada anseia.
Meu futuro é a noite escura e eterna. Mas vibrando em elétrons, prótons, nêutrons, mésons, e para mais não sei, porém, que é no perdão que eu me acho.
Eu serei a impalpável substância que nem lembrança do ano anterior substância tem."
(Apud Borelli, Olga. Clarice Lispector: Esboço para um possível retrato, pp. 61 a 62)

E como disse nosso poeta Carlos Drummond de Andrade na ocasião da morte de Clarice :

“Clarice

Veio de um mistério

partiu para outro

ficamos sem saber a essência do mistério

ou o mistério não era essencial.

Essencial era Clarice vagando nele.”

Vago sempre nesse mistério tentando descobrir a essência, porém, o gênio de Clarice me relembra sobre sua escrita :

"Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte."

A escrita de Clarice, me faz lembrar os versos do poeta indiano Rabindranath Tagore que diz :

"Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio e agüentá-lo. Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília estrelada com a cabeça pacientemente inclinada. A manhã certamente virá; a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em torrentes douradas por todo o céu. Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros, e as tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta." 

Enfim, assim é Clarice. É Lis, é Lírio, é Lispector no peito!