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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Lição de Bem Viver



Meu avô sempre foi uma pessoa feliz e brincalhona. O tipo de avô que toda criança quer ter. Era uma pessoa muito especial, vivia sorrindo e, em toda minha vida nunca o vi de mau humor. Sempre muito alegre e  animado , era capaz de começar uma "festa" pelo simples prazer de estar vivo.

Vovô era uma pessoa muito otimista que repetia sempre alguns chavões como: "Eu sou filho do Dono do Mundo, portanto seu herdeiro, herdeiro deste céu azul e deste verde sem fim que há nesta terra...", ou ainda; "Se eu me tirar de mim eu morro. Eu sou a pessoa mais importante pra mim mesmo".

Sempre amei meu avô, admirava-o muito, mas talvez tivesse uma visão infantil, limitada e superficial do que realmente significava aquele homem. Sempre observei o comportamento dele em relação a tudo, observava que fazia todo mundo sorrir em qualquer lugar que estivesse e nunca conseguia ficar calado.

Com os amigos ele conversava horas a fio sobre os mais diferenciados temas; com as crianças sempre tinha uma estória, um causo a contar com uma linguagem própria e todos ficavam entusiasmados com sua presença simples, porém, marcante. Assim, ele sempre conseguia "roubar toda a cena" onde quer que fosse.

Apenas podia passar as férias (algumas delas) como meu avô devido a distância que nos separava e também à algumas circunstâncias, mas ainda assim, os momentos em que estávamos juntos eram para mim sem igual, momentos marcados pela qualidade e considerados mágicos, tão mágicos que duram até hoje em minhas constantes lembranças. Vovô era uma dessas figuras extremamente ricas em seu mundo interior e que sabia expressar essa riqueza. Uma das coisas que mais me chamava atenção era que ele jamais tivera a oportunidade dos grandes acadêmicos e no entanto, era extremamente culto, cultura que chegava próxima à erudição, cultura que ia à frente de seu tempo e que poria muitos no chinelo, mas em se tratando de vovô, ele jamais faria alguém, fosse quem fosse, sentir-se inferior porque ele via em todos o seu igual e na minha opinião, não só sua inteligência e cultura eram à frente de seu tempo mas, costumo dizer sempre que era um homem à frente de seu tempo. Os momentos em que tive a oportunidade de passar junto dessa figura maravilhosa e extraordinária foram muito felizes e trazem sua marca em minha vida.

Foi justamente num mês de férias que aquele homem que já tinha um espaço privilegiado em meu coração, ganhou um terreno enorme e passou a ser ímpar dentro de mim. Nesta época, meus avós moravam em lugar maravilhoso, longe da cidade e, portanto, longe de tudo. Vovô tinha tido um mal estar e precisava consultar um médico, mas como estávamos só nós quatro (meus avós, eu e um primo adolescente), a pedido de minha avó meu primo foi acompanha-lo até o posto médico que havia mais próximo e eu resolvi ir junto com eles.

No caminho notei que ele cumprimentava a todos por quem passava com cortesia e carinho, mas nem sempre era correspondido, meu primo o repreendeu mas vovô não se importou. Meu coração questionava o porquê daquele homem estar tão feliz. Estávamos andando na chuva forte do verão que tinha nos pego desprevinidos e ele só sorria, eu na minha inocência ou ingenuidade não sei dizer, achei que vovô estava gostando daquela chuva inesperada, afinal, tudo para ele era motivo de festa, olhava para ele e sorria também, mas meu primo que tentava inutilmente desviar-se de todas as poças d'água apesar de encharcado, não via nenhum motivo para estar sorrindo, ainda assim, olhava meu avô e ele continuava sorrindo e eu o acompanhava naquele sorriso tão natural e espontâneo.

Ao chegarmos ao posto médico encharcados depois de mais de uma hora de caminhada, tivemos que esperar horas, a fome já se fazia presente e enquanto todos se debatiam em reclamações, vovô apenas sorria. Meu primo já havia perdido a paciência e já não podia conter toda a sua irritação, eu já estava cansada quando de repente, a atendente avisou que o médico não poderia atender a mais ninguém. Vovô fechou os olhos por um tempo, respirou fundo, como que a buscar forças e quando achamos que ele ia ao menos protestar, ele apenas sorriu e fomos embora.

Para o meu primo aquilo tinha sido a gota d'água, foi demais para ele vovô não ter sequer reclamado ou reagido, sem notar ( ou fingir que não notava) o que se passava, vovô seguiu com suas colocações e exposição de idéias, brincando conosco e sorrindo. A chuva havia cessado e ele continuava coversando com a gente na volta para casa, meu primo se mantinha calado ma, após atolar o pé em uma poça de lama, ele explodiu. Com toda veemência ele disse ao vovô tudo o que pensava. Disse-lhe que era um bobo por sorrir para tudo; que a vida necessitava de pessoas fortes e ele parecia um covarde. Disse-lhe que desperdiçava sorrisos demais, pois as pessoas faziam caretas para ele e, por não enxergar bem (ou fazer que não enxergava) ele nem sequer dava conta. Disse-lhe ainda que ele era muito tolo por desperdiçar alegria e atenção com quem não merecia.

Vovô havia parado para escutar todas aquelas asneiras e eu, indignada com tamanha falta de sensibilidade estava com tanta raiva que tinha vontade de partir para cima daquele moleque atrevido, afinal, quem ele pensava que era para falar com meu avô daquela maneira?

Nesse momento tive a impressão de que aquele moleque ia apanhar, bem que merecia, mas vovô deixou que ele se esvaziasse por completo e com carinho o abraçou, perguntando-lhe o que era ter força. Antes que meu primo pudesse responder-lhe, prosseguiu, dizendo que força o homem já havia demanstrado ter, quando escravizou o próprio homem, quando se sobrepôs à natureza, dominou e arrasou vidas em função de sua própria, quando desrespeitou a si mesmo e ao outro em busca de ser feliz. Isto era ter força, e não, ser forte.

Ser forte era duelar consigo mesmo. Era conhecer-se e aceitar-se como ser em evolução buscando sempre a luz que há dentro de si e que, por um obstáculo removível, provoca uma sombra provisória dentro de cada um de nós.

Disse também que o importante para ele, era que sorria com toda a capacidade que tinha para desejar o bem. O que o outro fazia com o sorriso que ele dava, não lhe interessava saber.

Vovô beijou o rosto do meu primo e falou bem devagar, talvez, para que o ouvisse bem: "Na vida há sempre escolhas; opte sempre por ser feliz".

Quanto ao meu primo, não sei o que ele tirou disso, mas quanto a mim que assisti a tudo, naquele momento eu pude reconhecer naquele homem, um ser único, inteiro e compreender com toda a minha ingenuidade ou infantilidade porque eu o admirava tanto, porque eu o amava tanto, ele realmente era digno de toda a minha admiração, de todo o meu amor e ainda o é.

Hoje, muitos e muitos anos após esse fato, quando sorrio para alguém que não consegue corresponder, me lembro do meu avô e sempre que posso vou beijar-lhe a testa para receber um sorriso. Ainda não possuo tantas virtudes quanto ao meu amado velho, talvez nem chegue a possuí-las, mas sei que quando estou aborrecida e sou incapaz de sorrir me lembro desse episódio capaz de renovar meu coração na certeza de que sou eu é quem deve "optar por ser feliz" e essa opção é  o maior exemplo que tenho de ser livre, porque nesta vida só somos livres sendo felizes.

Por que me lembrei de contar essa história justamente hoje?

Porque hoje, 25 de dezembro meu avô também era o aniversariante do dia e como na minha opinião, a liberdade é o dom da escolha mas, a liberdade suprema é ser quem somos e como disse meu querido; "conhecermo-nos e aceitar-nos como seres em evolução", quer melhor dia para refletirmos sobre a morte do egoísmo, da falta de fé, da ganância, do ódio e deixar resnascer a compaixão, a caridade, a fé e o amor?


Dedicado ao avô mais fofo, doce, lindo e amado do mundo
Francisco Garcia (Chicão)


Hoje, de algum lugar

Longe destas terras,

Há um doce olhar só para você.

Um olhar especial, 

De alguém especial

De distantes origens.

Um olhar de um justo coração

Que pulsa só a vida.

Que sorri porque ama livremente

Sem julgamentos, sem conceitos,

Sem prisões.

Hoje, como ontem,

Longe destes céus,

Há um encantado olhar só para você.

Nesse olhar, neste fitar,

Vai para você a magia da luz,

A simplicidade do perdão,

A força para comungar a vida

E a esperança

De dias mais radiantes de paz.

Hoje, de algum lugar dentro de você,

Alguém que já o amou muito

E ainda o ama,

Diz para você que valeu a pena

Ter estado nestas terras,

Sob estes céus, 

Falando de união, paz, amor e perdão,

Só para você saber

Que hoje é Natal,

E poder sentir a força

Que faz você sorrir

E continuar o caminho que um dia

Aquele doce olhar iniciou para você!

Paulo Kronenberger

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

NATAL




É Natal. Momento de parar e virar a página de mais um capítulo na história da vida. Uma data, um dia, um mês, um ano; não importa. Importa a vida que corre pelos dias do calendário chamando você e a sua atenção para a necessidade de refletir.

Onde está a alegria, onde está o sorriso? Onde estão as renas a embalar o trenó e o Papai Noel a distribuir presentes e gargalhadas: “Ho, ho, ho...”? Onde a chaminé e a lareira, onde a neve charmosa dos filmes de Natal no Tio Sam? Onde o pinheiro e as bolas, o presépio e o retrato do Jesus Menino a ser presenteado na estrebaria?

A manjedoura dos dias atuais vem desiludir o homem século XXI: nem só de barbas brancas e vermelhos trajes é composto o Natal do homem-celular, do homem-internet, do Adão em crise de auto-estima.

Não mais presépios, nem Josés de cera, nem Marias de barro. Não mais Jesus criança, estrela cadente, nem incenso ou mirra já decadentes. O Natal em Belém, no lombo do jumento, agora afigura-se outro: novo, transparente, globalizado - virtual, on-line em cada casa, muro ou apartamento da morada humana. Não mais chaminés; janelas. Nem candeias na noite escura, mas manhã gloriosa de novas realizações.

É tempo de Natal: renascer em novo dia, com sol cá dentro, iluminando consciências para um novo tempo. Surgindo das torres de fumaça, das montanhas ou das estradas fulgurantes, o Jesus de hoje não quer reis magos. O homem - Jesus de hoje quer as luzes de um novo pensar, a leveza saneadora de um novo amar, o encanto tão sonhado de um prazeroso viver.

Como, Noel? Mostre-me o que fazer para, no fim do ano, haver presentes a receber!

Ah! Menino meigo te digo, não há fórmula nem mistério para viver o sonho amigo. Buscar no outro a aliança rumo ao vôo inaudito; descobrir paisagens de um vigor desconhecido, que abastecem de vida a vida vazia - só no coração, Menino, só na viagem que não tem preço nem horário, velas nem bagagem... É somente no teu próprio mundo embarcando, com alma e coragem, Menino, que teu reino de paz será construído. E ainda, se te esforçares um pouco, poderá ouvir o apito que soa constante, lá no fundo, quase perdido, do trem dizendo: Há dois mil e oito anos tenho partido...
Estação 2009, lá vamos! Rumo contente, leme avante - guia-nos o Menino-Mestre Jesus, velas pra frente, corações içados, singrando os mares que tanto precisamos ver navegados.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Chão do Meu Coração



Nasci e fui criada em São Paulo,
lugar que amo e respeito.
Mas meu coração escolheu morar nas Minas Gerais
na Mantiqueira que tem morros
pôr-do-sol
infância
avô, fazenda
e lembranças. 

Dessa união de forças
renasce a vontade
lunarmente crescente
de escrever
para dizer do afeto
E é tudo o que eu quero:
continuar falando
escrevendo
cantando
as alegrias e tristezas
do amor por esse chão
que optou meu coração

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Brilho De Uma Estrela



Se uma estrela se apagasse nas alturas

Durante eras e eras

Sua luz ainda viajando do céu para baixo

Brilharia aos nossos olhos mortais


Assim, quando morre um grande homem

Por anos além da nossa compreensão

A luz que ele deixa atrás de si

Brilha sobre o caminho dos homens


Ao meu amado Vovô, "Chicão"

Presença Imortal


Profundamente inconformada, Mamãe
avistei numa manhã de sol
pelas ruas primaveris
uma romaria de letras aduncas e tristes
fatigadas por tua ausência

A morte cantava a poesia do derradeiro

Empalideci lacrimosa
ante a eterna rigidez do teu corpo
mas me derreto inquietamente ensolarada
pela imortal vitalidade de tua alma
de olhos cada vez mais visionários
e boca cada vez mais falante, audaciosa

Te sentirei saudades, Mamãe, 
mas gostarei dela
me fará conviver contigo
no vácuo irreversível
de tua apenas presença imortal




Entendo menos do que dei à minha mãe e muito mais do que ela me deu.
Amor, ah, sim, e asperezas sistemáticas que desgastaram as arestas brutas de algo promissoramente valioso e digno de ser polido em mim. Ela proporcionou provas difíceis de muitos tipos e um puro respeito pela sobrevivência - não dos mais fortes - mas dos mais sábios, dos mais devotados à vida, à terra, aos entes queridos, incluindo-se aqueles mais difíceis de serem amados e os que precisam de amor mais do que qualquer outra coisa.

Através da vida que levávamos, aprendi o dom, a lição mais árdua de se aceitar, e a mais poderosa - ou seja, o conhecimento, uma certeza absoluta de que a vida se repete, se renova, não importa quantas vezes seja apunhalada, descarnada, atirada ao chão, ferida, ridicularizada, ignorada, desprezada, desdenhada, torturada ou tornada indefesa.

Com minha mãe querida, aprendi tanto sobre o túmulo, sobre encarar os demônios e sobre o renascimento. Sei que aqueles que sob certos aspectos e por algum tempo estão afastados da crença na própria vida acabam sendo os que perceberão que o Éden está por baixo do campo nu, que sementes novas vão primeiro para os lugares abertos e vazios - mesmo quando esse local é um coração de luto, uma mente torturada ou um espírito devastado.

Qual é esse processo do espírito e da semente, cheio de fé, que toca o solo nu e o torna rico de novo? Não tenho a resposta completa. Só sei o seguinte: aquilo a que dedicamos nossos dias pode ser o mínimo do que fazemos, se não compreendermos também que algo espera que a gente abra espaço para ele, algo que paira perto de nós, algo que ama, e que espera que o terreno certo seja preparado para que ele possa se revelar.

Estou certa de que, enquanto estivermos aos cuidados dessa força de fé, aquilo que pareceu morto não estará morto, aquilo que pareceu perdido também não estará mais perdido, aquilo que alguns alegaram ser impossível, tornou-se nitidamente possível, e a terra que está sem cultivo está apenas descansando - à espera de que a semente venturosa chegue com o vento, com todas as bênçãos de Deus.

E ela chegará. 

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quero tanto e quero pouco
Em princípio, quero apenas,
 elevar os solidários
prestigiar a sensibilidade e a humanidade ignoradas
sepultar os inconscientes sem chorar.

Quero ser raiz, fruto e semente
de amor a estar feliz sem estar contente.
Qual superfície de um fulcro
estar viva de sepulcro e, relaxada,
por-me em riste,
quero ser mansa ao odiar,
ver avanço em recuar,
ser alegre, mesmo triste.

Quero amar para viver como um furtivo fato da vontade,
fazer de mais curta eternidade um ato percebido.
Tentar, no que serei,
ver se terei sido.

Mas para isso, que tão pouco nos parece,
é preciso tanta coisa:
Evitar supersticiosos, fugir dos possessivos, escapar dos inconscientes,
crer em frenéticos fraternos,
duvidar de céticos eternos
aceitar o carinho que se tem, compreender que não o tenha quem não tem,
amar, na vida, tanto a volta de quem vai,
quanto a ida de quem vem.
Além do mais – vejam só! – quero falar.
Ouvir muito e falar muito do que avisto enquanto sigo,
continuar crendo em dizer-me
a renovar cada palavra que digo.
Eu quero paz e quero-a, tensa,
a pedir satisfações aos conteúdos do que penso,
descontentar-me sempre com a forma como falo,
tornar impossível contentar-me quando calo.

Não quero tanta razão que me impeça,
aos deuses, me ajudarem,
nem tantos argumentos que me impeça, pessoa, amar alar-me.
E que dizer:
- Eu não quero o defeito da paciência
- quero a virtude da impaciência
- a ansiedade que cria,
 a pessoa que emagrece,
o delicioso desespero de que se tecem as esperanças efetivas.

Assim, meu porvir, tenho sido, que à diante,
Será atado, a uma boca que ouve, um ouvido que cante
esse enredo, tão breve.
Esse enredo que agora devora o meu dedo que escreve
e cala sua âncora num canto de angra, contente ao ouvir.
- Eu quero amar transparente, numa fala de encanto que sangra existir.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Orquídea Branca


Todos os anos, no dia do meu aniversário, desde que completei doze anos, uma orquídea branca me era entregue anonimamente em casa. Não havia nunca um cartão ou um bilhete e os telefonemas para o florista eram em vão, pois a compra era sempre feita em dinheiro vivo. 

Depois de algum tempo, parei de tentar descobrir a identidade do remetente. Apenas me deleitava com a beleza estonteante daquela flor, mágica e perfeita, aninhada em camadas de papel de seda cor-de-rosa. Porém, nunca parei de imaginar quem poderia ser o remetente. Alguns de meus momentos mais felizes eram passados sonhando acordada com alguém maravilhoso e excitante, mas tímido ou excêntrico demais para revelar sua identidade. 

Durante a adolescência foi divertido especular que o remetente seria um garoto por quem eu tinha uma admiração, ou mesmo alguém que eu não conhecia e que havia me notado. Minha mãe frequentemente alimentava minhas especulações. Ela me perguntava se havia alguém a quem eu tivesse feito uma gentileza especial e que poderia estar demonstrando anonimamente seu apreço. Fez com que eu lembrasse das vezes que nossa vizinha chegava com o carro cheio de compras e crianças. Eu sempre a ajudava a descarregar o carro e cuidava que as crianças não corressem para a rua. Ou talvez o misterioso remetente fosse o senhor que morava do outro lado da rua. No inverno, muitas vezes eu lhe levava sua correspondência para que ele não se aventurasse nos degraus escorregadios.

Minha mãe fez o que pôde para estimular minha imaginação a respeito da orquídea. Ela queria que sua filha fosse criativa. Também queria que me sentisse amada e querida, não apenas por ela, mas pelo mundo como um todo.

Quando estava com dezessete anos, perdi um amigo que adorava, costumava chamá-lo de semideus. Na noite em que recebi a notícia de sua morte, chorei até pegar no sono. Quando acordei de manhã havia uma mensagem escrita com batom no espelho do meu banheiro: “Alegre-se filha, quando semideuses se vão, os deuses vêm”. Pensei a respeito daquela citação durante muito tempo e a deixei onde minha mãe a havia escrito até meu coração sarar.



Finalmente, quando busquei o limpa-vidros, minha mãe soube que estava tudo bem novamente.

Mas houve certas feridas que minha mãe não pôde curar.

Minha mãe estava atenta à imagem que sua filha tinha de si mesma. Imbuiu-me com uma sensação de mágica do mundo e me deu a habilidade de ver a beleza mesmo em meio à adversidade.

Na verdade, minha mãe queria que sua filha se visse como a orquídea - graciosa, delicada, mas forte, perfeita, com uma aura de mágica e talvez um pouco de mistério.

Minha mãe morreu quando eu estava com dezoito anos. Este foi o ano em que parei de receber orquídeas.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Primavera"



Na Primavera tudo entra em harmonia,
toda criatura, toda noite, todo dia
E cada alma pura, numa troca de energia,
segue um ciclo que mistura 
diferença e simetria.

Assim dança o Girassol
em dourado campo silvestre :
segue fiel a seu Mestre,
segue o ritmo do Sol.

Obedece a Mãe Natureza,
a quem sempre reverencia
num espetáculo de beleza
que se repete dia a dia.

Se para a vida despertamos,
nos tornamos Girassóis
Se a ela nos entregamos,
ela se entrega a nós.

Se estamos em harmonia,
 interagimos com o mundo
Se unimos coração, gesto e sabedoria
damos um passo profundo
Através de um ritmo paciente 
fazemos parte de tudo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um Brinde À Amizade!


No meu primeiro dia de escola, uma menina pediu-me para ser sua melhor amiga. Nós duas estávamos usando um laço de fita no alto da cabeça e parecíamos duas pequenas cacatuas. "O que preciso fazer?" Perguntei, com receio. Já havia coisas demais acotecendo naquele dia, e eu precisava tomar cuidado. "Eu não sei!", disse ela. "Mas é bom ter amigas!"

E não é que ela tinha razão? Já era uma mulher sábia, aos sete anos de idade. Seu nome era Sandra, e eu imediatamente dei seu nome a uma gata que apareceu lá em casa, como sinal da nossa amizade e de como era bom sermos amigas. Com o tempo, a gata foi envelhecendo, mas quando no devido tempo, ela partiu deste mundo, a amizade sobreviveu e iluminou a minha vida como sempre fazem as amizades.

Eu, sinceramente, não sei como alguém pode viver sem ter amigos, pessoas com quem dividir seus segredos, esperanças e sonhos. E, também, pessoas com quem dividir humilhações, vergonhas e perdas.

Pessoas que riem conosco por nada, que cantam as mesmas canções, lêem os mesmos livros, ou nos dizem o que o resto do mundo não nos diria: que o novo corte de cabelo foi um grande erro.

Como vivem essas pessoas que se sentem satisfeitas e orgulhosas por serem tão independentes que declaram não precisar de amigos? Seria fingimento, algo que fazem por necessidade ao se verem sem amigos? Seria medo de fazer confidências, de se abrir? Medo de ser desavergonhadamente natural, num mundo que parece insistir em representar personagens e agir como se tudo estivesse bem, mesmo quando é evidente que as coisas estão longe de estar bem? Será que existe alguma dignidade em ser capaz de viver sozinho, em tentar ser uma ilha que não encosta em nada e em niguém?

Há anos atrás eu abandonei um bairro na capital paulistana extremamente curioso, onde todo mundo sabia demais da vida dos outros, para viver em Belo Horizonte uma cidade anônima para mim, onde eu passava por muitas pessoas todos os dias, sem conhecer nenhuma delas e sem que nenhuma delas me conhecessem. Era uma coisa assustadora, porque não conseguia sequer comprimentar alguém direito. É curioso quando as pessoas dizem que mineiros são hospitaleiros, que nada! Mineiros são desconfiados! Hospitaleiros sim, quando já te conhecem, quando você é apresentado por alguém já conhecido. Mas foram os grandes amigos que consegui fazer em BH que deram sentido à essa cidade e mantiveram minha sanidade.

O que nunca entendi é como muitas pessoas parecem considerar uma virtude o fato denão terem amigos. Havia um homem que morava numa rua próxima. Um homem grande e de olhos tristes, caminhava vagarosamente e com a coluna ereta pela rua. Não olhava para os lados e não comprimentava ninguém. Eu costumava conversar com ele, não por bondade ou generosidade, mas porque de onde vim era costume saudar os vizinhos e trocar algumas palavras. Ele ficava assustado e olhava à sua volta, achando que eu poderia estar falando com outra pessoa, mas tinha prazer em responder o que para ele devia parecer um interrogatório, quando eu lhe perguntava se ele preferia o frio ou o calor, a que programas de televisão ele assistia, e como era possível fazer aquelas flores de seu jardim crescerem tanto num solo urbano.

Ele respondia com facilidade às minhas perguntas, depois de entender que eu não pretendia ir viver com ele, mas nunca foi arrojado a ponto de perguntar alguma coisa a meu respeito. Talvez lhe faltasse coragem, ou mesmo interesse. Certa vez eu lhe perguntei onde moravam seus amigos. "Amigos?" Ele pronunciou a palavra como se eu estivesse falando de marcianos. Não toquei mais no assunto. Quando ele faleceu, não havia quase ninguém diante da casa dele quando o serviço funerário chegou. Eu ouvi os vizinhos dizendo que ele era um homem muito bom porque era muito reservado. Eu tive vontade de gritar que ele podia mesmo ter sido um homem muito bom, mas não por ser reservado, e sim, apesar de.

Conheci muitos lugares, e em todos eles eu sempre me emocionei ao parar para observar atos de amizade.
Crianças pequenas indo para escola, catando enormes folhas de bananeira para protegerem umas às outras quando tempestades tropicais ameaçavam molhar suas camisas imaculadamente brancas. Elas riam enquanto corriam, tentando escapar das enormes gotas de chuva. Dois velhos, tão absortos em seu jogo diário de xadrez que nem percebiam a movimentação do trânsito à sua volta. Eles sorriam e apontavam um para o outro, como se um deles tivesse feito uma jogada inteligente. Quatro mulheres gordas e cheias de alegria numa praia, obviamente amigas há décadas, esforçando-se para fazer os exercícios da ginástica em meio a uma multidão de mulheres bem mais magras, e mesmo assim elas não se sentiam deslocadas, pois estavam enfrentado aquilo juntas.

Meninos, que tinham inventado um estádio e estavam jogando um futebol maravilhoso em um terreno baldio, com seus casacos dobrados servindo de balizas do gol. Mulheres fazendo compras, ansiosas de braços dados, vibrando com a possibilidade de encontrar mais uma pechincha logo adiante. Golfistas explicando interminavelmente uma tacada um para o outro e demonstrando solidariedade quando ela, mais uma vez falhava. Dois casais, enxugando as lágrimas uns dos outros com grandes lenços coloridos. Jovens mães que tinham passado juntas pela fases de noivado, casamento, primeiro filho, preocupadas em proteger seus filhos do sol na praia, cada uma cuidando do filho da outra como se fosse seu.

Muitas vezes, eu gostaria de fotografar e guardar para sempre algo tão maravilhoso e enriquecedor como a amizade, e por isso , é uma alegria sentar e olhar algumas fotos que tenho. Isso prova, se é que precisa ser provado, que a amizade não depende necessariamente de pertencer ao mesmo grupo social ou ter os mesmos interesses.

Durante anos fui muito amiga de um rapaz que adorava boxe - um esporte que detesto. Como ele nunca tinha ido ao teatro, eu o levei para assistir uma peça, que ele disse ter achado interessante, mas que não o encantou. Na sua opinião, eles deveriam ter se animado um pouco, parado de reclamar e beber, e entrado num acordo. Depois disso, para ser justa, eu tive que ir assistir a uma luta de boxe. Detestei o que vi e achei que eles deveriam ter trocado um aperto de mão, saído do ringue e ido comer uma pizza juntos.

Nossa amizade sobreviveu porque tínhamos muitas outras coisas em comum, debatíamos os problemas, as partidas de xadrez, as histórias de detetive, a importância do ensino e a crença que a vida ia melhorar em vez de piorar. Ele amadureceu e eu também, passamos a nos ver pouco depois que nos formamos. Mas nos encontramos algumas vezes depois daquela época e as raízes da amizade continuam vivas, a sensação de que não era necessário explicar as coisas em contexto. Não há nada melhor. Nós nunca fomos namorados, e portanto, não há recriminações sobre quem abandonou quem.

De certa maneira, a amizade é um sentimento mais puro que o "amor" - o amor sexual de compromisso, que exige que se exclua os outros da relação.

Eu fico muito feliz por meus amigos terem muitos outros amigos além de mim, mas não sei se teria a mesma generosidade de espírito para com um amor. Eu ficaria muito perturbada e aborrecida - para não dizer arrasada- se soubesse que um amor pudesse ter outro amor além de mim. Não admira que a amizade seja mais fácil de se lidar. E ainda que, no caso de outras pessoas, a pessoa amada possa ser confusa, difícil de entender, irritante e sem juízo, os amigos são sempre emocionantes.

Minha mãe tinha uma amiga que eu achava muito esquisita e antipática. Elas tinham trabalhado juntas como cozinheiras de um grande cheff e eram amigas de longa data. Essa mulher era magra e vaidosa, azeda , enquanto minha mãe mulher encorpada, elegante, alegre e generosa, era o contrário da outra. A amiga da minha mãe estremecia diante da idéia de uma criança lhe estender uma mão lambuzada, num gesto de afeto, mas minha mãe a valorizava como amiga. Juntas elas relembravam os tempos de trabalho árduo na cozinha e de quando estudavam com os livros que haviam comprado com o dinheiro de um prêmio que receberam.

Era animador observá-las, pois, apesar das grandes diferenças sociais que pareciam existir entre as duas, elas eram apenas duas garotas inocentes, a julgar por seu estado de espírito, e as marcas de idade pareciam sumir de seus rostos enquanto elas falavam do passado, do presente e do futuro.

Eu me lembro da noite em que minha mãe recebeu a notícia de que sua amiga havia falecido. Ela não foi dormir. Passou a noite sentada diante da janela, olhando para além, nem seu marido, nem sua filha conseguiam consolá-la. "Ela era minha amiga, nós nunca precisamos dar explicações uma à outra."

Eu não questiono que a amizade seja mais cega que o amor. Eu não tenho idéia, por exemplo, da aparência dos meus amigos. Se você me perguntasse, eu teria dificuldade para descrevê-los, pois, por serem meus amigos, tudo o que vejo são seus rostos sorridentes, seu entusiasmo, esperando ansiosamente para ouvir ou falar alguma coisa, achando que eu também sou uma boa notícia. Eu não poderia dizer que um é um homem careca ou que outra é uma mulher deslumbrante, elegante, que aparenta ser dez anos mais jovem do que realmente é. Essas coisas não fazem parte da amizade. Eu não saberia dizer o que meus amigos estavam vestindo na última vez que os vi. É a companhia, o pôr a conversa em dia e a capacidade de compatilhar, a abreviação disso tudo, que têm valor para mim, a ponto de excluir todo o resto.

Eu fico profundamente emocionada com minhas lembranças de momentos melhorados e maus momentos esquecidos graças ao mágico efeito de cura da amizade. Que a alegria de amizades, possa sempre alegrar o seu coração.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Homem e o Caiçara



Como sempre havia sido cinco dias de escritórios, reuniões e salas frias. No fim-de-semana, cadenciando ainda cansaços da viagem, o homem macilento consumia-se em desejos sentado na areia da praia. O mar cantarolava, em cada onda um verde novo em seus ouvidos. Ele observava o coqueiral, os olhos no topo das folhas de coqueiro numa ansiada façanha inatingível. Arrepiava-se sob a verticalidade sublime daquela altura vegetal e primitiva.
Por perto um caiçara curioso reparava vestígios opressivos no corpo daquele homem. Aproximou-se e lhe perguntou sem rodeios:
- Que é isso em seus cabelos?
Absorto no coqueiro, o homem se espantou.
- Falou comigo?
- Se me permite, coisa estranha em seus cabelos, que é isso?
- Ah, é uma fresta da consciência de zelos abafados, rumos esquecidos e ontens ainda aguardados.
- E o que é isso em seus pés? - insistiu o caiçara.
- São caminhos interrompidos por sapatos civilizados - dizia o homem com a voz trêmula - São dedos atrofiados por assentos do progresso.
- E isso em suas mãos? - perguntou o caiçara chegando mais perto.
- São acenos invisíveis pela fumaça, carinhos inibidos pela ameaça de compromissos, dedos enrijecidos por botões da atualidade, são castidades esbugalhadas.
- E sua boca, toda encolhida, o que há com ela?
- São risos cicatrizados - falou vacilante o homem - São ideais lacrados, é o gosto da mudez.
O caiçara encarou-o fixamente e disse impetuoso:
- Seus olhos são cinzas! Mas têm desejos fortes...
- É a constante vontade de aprender a subir num coqueiro - disse o homem falseando a voz - Você me ensina a subir num coqueiro? Eu tenho anseios por alturas primitivas.
Então, o caiçara foi se afastando lentamente e começou a subir no coqueiro, a subir, a subir.
Enquanto isso, soltavam-se dos olhos do homem duas gotas cintilantes em direção à boca.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008




Dentro de mim vai um índio 
com um sol tatuado no peito e um lua nas costas
Vão sonhos dessarumados onde a vida recosta
Vão todas as comportas dos sentidos abertas
para o mar... tão distante!
Vai uma constante saudade doce
de tudo o que me salgou
uma compota de pêssego com queijo branco
Dentro de mim vão brando horizontes verdes
e tantos prantos bloqueados!
Vai um padre silencioso e manso
Vai um garoto com os bolsos cheios de bolinha de gude
e um suspiro de vez em quando

Dentro de mim vai um pano branco
como o cenário das ambições
Vão deduções esfarrapadas de uma realidade
tão aguda e sem saída
Vai um pássaro de cauda comprida...

Dentro de mim vai uma vida tão ativa
e tão cativa aqui fora!
Vai uma bola de futebol tão grande, desenhada nela
um mapa-mundi com gomos de paz
Vai um canteiro de rosas e um mosteiro
com a quietude da três horas da tarde
Vai às vezes uma covarde mas vai um imenso cantinho de solidão
para o recobro da coragem de se viver aqui fora
E dentro de você,o que é que vai?

sexta-feira, 8 de agosto de 2008


O que a janela está olhando?
Você.
O dia passar.
Alguém chegar.
A chuva cair.
A cortina balançar.
O pé pisar.
A luz sumir.
O sono chegar.
A cidade parar.
Tudo recomeçar.
O que vejo na janela?
Pedaços do corpo a sobrar.
Cotidianos no ar.
Recantos de lar.
Surpresas chegar.
Alguém me olhar.
O vento passar.
O tempo parar.
O meu caminhar.
Nada a contar.
E entre a janela
Sou eu
Em pausa?
Antes do mover?
Sou eu
A parar?
A mover
E entre a janela?
É o encontro.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008



vive com alegria,
amorosamente,
entre aqueles que odeiam.
vive com alegria,
com saúde,
entre aqueles que sofrem.
vive com alegria,
em paz, entre os perturbados.
olha para seu interior.
permanece sereno,
livre do medo e do apego,
e conhece a doce alegria do caminho. 


DO DHAMMAPADA
COLEÇÃO DE AFORISMOS MORAIS BUDISTAS DE 300 A.C.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O PARADIGMA DO CORAÇÃO



Quando olho a superfície do oceano, de uma praia qualquer, vejo sempre muita espuma e agitação. Isto me dá a sensação de um movimento rápido e poderoso. Mas serei capaz dedesviar o olhar da espuma ilusória das águas para a profundidade sem nome do oceano da verdade? Se olho profundamente, vejo sentimentos muito antigos de medo e incompreensão lutando - dentro do coração humano - contra a bondade, a sabedoria, a decisão de defender os mais fracos e a vontade de erguer-se até o nível do que é sagrado.

Cada vez que olho para o mundo vejo, lado a lado, realidades de tempos muito diferentes. A pedra, a folha de grama, o Sol e a montanha têm idades diversas. O brilho das estrelas na madrugada em que escrevo, viajou milhões de anos à velocidade da luz até chegar a este santuário natural, agora varrido pelo vento forte. O Planeta em que caminho vive há 4,6 bilhões de anos, mas a borboleta azul que dançava ontem à minha frente tinha algumas semanas de vida. 

Este contraste entre novo e velho, passado e futuro, momento e eternidade, ocorre dentro e fora de cada um de nós. E perceber isto é - penso eu - sintonizar com os novos tempos. A carroça convive com o computador em nossas cidades, do mesmo modo que sentimentos primitivos como o ódio, a covardia e a mágoa se misturam à coragem, à ética e ao amor universal. Há mais. Calor e frio, novo e velho, efêmero e duradouro, bom e mau, branco e preto: o mundo visível está cheio de contrastes. Sintonizar com a chamada Nova Era é ser capaz de situar-se corretamente em meio a esta eterna luta dos contrários - sem medo nem omissão - enquanto navegamos na fraternidade essencial que une todos os seres. Por outro lado, perceber o nascimento de uma nova civilização da ética dentro do coração de cada um de nós é como ter a cabeça no céu e os pés na terra e unir o espiritual com o material. 

Despertar a capacidade de ouvir o próprio coração. Para alguns isto se chama perceber o Cristo interno; para outros, é ouvir a voz do silêncio; ou olhar o mundo à luz do Tao. Não importa. Como disse Clarice Lispector, a palavra é apenas o anzol com que se deve pescar a realidade. A percepção da verdade profunda é quase sempre imediata e não verbal. Mas há um certo ar de eternidade girando em torno dela.
Tudo isso é, na verdade, o renascimento de uma percepção ampliada da realidade, algo que esquecemos durante alguns séculos e agora estamos conseguindo relembrar. Por isso o chefe Seatle, autor do maior manifesto ecológico de todos os tempos, datado de 1854, pode ser considerado um dos grandes profetas da nova era:
"Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos a pureza do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?", perguntou o líder indígena ao presidente norte-americano que queria comprar as terras dos dwamish. E continuou:
"Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penunbra na floresta densa, cada clareira e inseto que zumbe são sagrados na memória e experiência do meu povo..."

O pardigma do coração que emerge na chamada nova era já estava muito presente nas sociedades da América pré-colonial. A morte, para os indígenas, era apenas um detalhe dentro do processo infinito da vida:
"Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertecem à mesma família."

A sabedoria da nova era de que tanta gente fala hoje já vem sendo proclamada desde o nascimento da humanidade atual. No século XX, Antoine de Saint-Expéry redescreveu assim esta verdade mais velha que o mundo: "O essencial é invisível aos olhos".

Jesus Cristo, Pitágoras, Jâmblico, São Francisco de Assis e Buda são todos precursores da nova era. Os grandes instrutores das religiões humanas proclamaram, sem exceção, a nova era da fraternidade universal de todos os seres que agora surge, timidamente, em meio à crise econômica, política e cultural da civilização humana. 

Autores modernos como Fritjot Capra, Krishnamurti, Teilhard de Chardin, Carlos Castañeda e outros não fazem mais do que adaptar a tradição de sabedoria eterna à linguagem e às circunstâncias de hoje. Não há, pois, nada mais antigo do que o conteúdo da mensagem da chamada nova era. O que estamos vivendo hoje pode ser superficialmente novo, mas se olharmos em profundidade, teremos de concordar com Eclesiastes, do Antigo Testamento:
" Todos os rios correm para o mar e, contudo, o mar nunca se enche: embora chegando ao fim do seu percurso, os rios continuam a correr(...) O que foi, será; o que se fez, se tornará a fazer. Nada há de novo debaixo do Sol!"

Cada geração acha que os anos que lhe toca viver são os mais importantes da história humana. Estamos acostumados a pensar que iremos viver o fim da humanidade - ou sua regeneração definitiva. Muitos espiritualistas chegam a pensar que estão destinados, pessoalmente, a cumprir um papel grandioso de mestres e instrutores em alguma transição dramática para a "nova era". Não consigo imaginar nada mais distante da atitude de que se necessita do que este tipo de auto-importância. Colocar-se como umbigo do mundo é exatamente o oposto do altruísmo sincero que caracterizará a próxima civilização da fraternidade universal. Por mais disfarçada de espiritualidade verbal que esta atitude possa estar, ela é essencialmente igual à do homem que só pensa em acumular bens materiais e que, em função disto, é capaz de mentir e prejudicar os outros. Devemos ser implacáveis com os vaidosos que se vestem de líderes espirituais, se quisermos ajudá-los, porque o primeiro passo verdadeiro que eles precisam dar é parar de mentir para si mesmos.

A mudança de parâmetros que a nova era exige não está, portanto, no aspecto decorativo das nossas vidas. Nossa mudança interior se mostrará, muito naturalmente, em uma mudança de hábitos externos. Podemos praticar certas artes marciais meditativas como tai chi chuan, fazer meditação diariamente, ampliar nosso contato direto com a natureza, reexaminar nossa escala de valores pessoal e definir um programa de vida que gire em torno da busca da sabedoria. Mas não estaremos fazendo questão de mostrar nada disso para os outros. Não iremos influenciar indevidamente outras pessoas. Não nos preocuparemos muito com nossa auto-imagem nem esperaremos reconhecimentos externos da nossa suposta sabedoria. Tudo isto tende a anular a melhor parte dos esforços pelo auto-aperfeiçoamento. A vaidade é uma erva daninha que mata o conteúdo espiritual da nossa vida. Por isso, não devemos ocultar nossos defeitos, mas sim corrigi-los.

A principal característica do paradigma do coração, que marcará a nova era, é que ele nos faz independentes das circunstâncias externas.

Hoje em dia, cada aspecto da vida cotidiana da humanidade é reconstruído à luz da percepção de uma nova era. Uma nova medicina está nascendo. A percepção ecológica permeia tanto a visão religiosa do mundo quanto as ciências sociais e econômicas. Os movimentos sociais passam por uma crise profunda que é prenúncio de renovação e renascimento. Terão de ressurgir dentro de uma visão solidária do mundo, girando em torno do princípio da ajuda mútua, e abandonando o parâmetro mecanicista da luta de classes e da guerra pura e simples entre pobres e ricos. A psicologia de Carl Jung e tantos outros, encontra a sabedoria oriental do mesmo modo que as ciências exatas. Não vai ficar ninguém para contar a história do mecanicismo. Cada campo do conhecimento humano se conectará com o paradigma do coração, aquele referencial básico que nos guia mesmo sem o uso das palavras.

Dentro de algum tempo, as guerras serão apenas lembranças dos erros ridículos do nosso passado. Perceberemos a paz de todo o universo dentro do nosso coração, e, à noite, quando olharmos as estrelas, poderemos ter orgulho de pertencer à humanidade deste pequeno planeta. Cuidaremos da Terra com o carinho que ela merece, porque sentiremos que é como um jardim onde cultivamos não só plantas, mas também nossas próprias almas. E assim nos ergueremos gradualmente em direção à perfeição sem limites que aguarda por nós porque teremos adquirido a consciência do ser cósmico que representamos na centelha universal. Antes, porém, precisamos terminar o inacabado...

quarta-feira, 14 de maio de 2008


Radiante Mãe Divina
Hospedeira Mãe da Luz
Luz do Amor, Divino Mestre
Santo Filho, Santa Mãe
Radiante Mãe Divina 
Doce Mantra Manto Azul
Aconchega em sonho eterno 
Os espíritos das Mães
Mães Felizes, Mães Serenas,
Mães Perdidas, Mães do Cais
Bailarinas ou atrizes,
Operárias Mães do Lar
Mães que nunca estão presentes
Mães Doutoras, Mães Cantoras
Mães Gourmet, Mães Decoradoras
Mães Diplomatas, Mães Escritoras
Mães Psicólogas, Mães Ecologistas
Mães Jardineiras, Mães Pintoras
Mães Avós ou Mães Babás
Quando elas se ausentam,
Mãe Divina, olhai por nós
Radiantes Mães Divinas
Todas tão essenciais
São as portas para a vida 
Deixam marcas imortais
Em seu manto, ó Mãe Divina
Brilha uma estrela a mais
É luz de Mãe que foi-se embora
E em teu colo sonha em paz

Meu eterno amor, reconhecimento, respeito
carinho, gratidão e saudade, 
para uma Estrela que
brilha sem cessar;
Minha MÃE!!!

Pelo dia das Mães que passou 
e por seu aniversário em 13.05

quinta-feira, 1 de maio de 2008



A Natureza muda e com ela mudamos nós, 
temos a felicidade dos movimentos e a tristeza de às vezes, 
não realizarmos o que deveria ser total para alimentarmos almas
Devemos continuar andando pelas estradas,
sonhar, realizar, acreditar no amor, na amizade,
acreditar na simplicidade de voar com as asas do coração
É belo falar como se escreve, 
é uma busca do reencontrar-se por breves momentos, 
conhecer os cantos da Terra, 
buscar informações, aprender, passar algo de bom, voar, viver
A realização maior é aquela que nos proporciona o entendimento,
o conhecimento, a compreensão e a liberdade
É difícil ser, mas é uma brilhante ideia a de aperfeiçoar para o simples e o belo 
As portas estão cerradas com cortinas de ferro, 
mas as cortinas da nossa alma nos levam a uma abertura maior
Procurar se conhecer, saber, viver, amar, sobreviver
Existe um enorme espaço dentro de nós
Podemos nos transportar da realidade bruta para uma paz interior 
onde temos a real liberdade de SERmos
Vamos fazer sempre uma viagem em nosso interior em busca de novos sonhos!

terça-feira, 18 de março de 2008



Amigos, amigos?!
Onde estão os amigos de verdade?
Foi tudo mentira
ou amigo já tem prazo de validade?

segunda-feira, 17 de março de 2008


Quero palavras que transpasse os corpos
mais duros que o vento do Amor
ainda não pode roçar
palavras que não coubessem em si
nem nos vasos do infinito
e que não fossem só líquidas
de passagem pelos acidentes naturais
mas que compusessem no ar algo tão gasoso
que desse corpo à minha alma
às almas invisíveis...

Quero palavras que não jorrem como água
do vazio do céu nem do jarro da terra
e não alimentasse em vão a sede das bocas
mas vazasse a fome
de um largo coração aos prantos
que nunca sentiu nada por elas
nem nadou ou bebeu
dessas impossíveis palavras...

domingo, 2 de março de 2008

Pelos Ventos Semear


Quero nos cumes do mundo ganhar,
sobre os vales e ancoradouros,
as sínteses do saber:
para nos ninhos abandonados tecer
musgos,
nos sertões ressequidos 
umedecer de lágrima a última flor,
e de um fruto universal
nutrir.
Trazer
um tríduo de anjos
para os sonhos embalar;
e apresentar as asas do meu coração,
em corola de vozes
de sentinela, a visão,
ganhando das almas pervagantes
e os alvos do luar,
itinerantes,
a ciência do servir e do doar;
a alegria de, pelos ventos,
nos lugares mais chãos
e sem eventos,
o que eu souber,
com fervor, semear.

domingo, 24 de fevereiro de 2008


existe uma ideia alguma coisa pelo ar

traçando o destino criando o tempo e o lugar

como um menino brincando livre no quintal
existe um ideia

nas oficinas do astral

fazendo estrelas, planetas, sonhos, temporal

o infinito que faz a gente acreditar

em cada desejo movendo a vida sem parar
existe uma ideia

que faz de mim um sonhador

olhando mistérios 
que brilha os olhos do amor

vivendo tão perto 

pulsando as veias da paixão
existe uma ideia

trazendo o céu até o chão

rasgando o espaço unindo o sonho ao coração

uma vontade que faz a gente acreditar

em cada desejo movendo o sol e o luar
existe uma ideia...

Sou o plural.
A visão de querer a 3ª pessoa bem.
Anciosa, aflita,
inquieta, perfeccionista,
humanista, curiosa, perseverante.
Sou um desejo, um querer seguir.
Começando pela criança brincando,
para aprender a não desaprender.
Dou as mãos, os ouvidos, o coração.
Suando, lutando por igualdade,
por liberdade,
por fraternidade
por felicidade.
Meu órgão de visão é amplo,
assim como minha criatividade.
Sou uma pessoinha vendo pessoinhas caminhar,
querendo caminhar melhor.
Sou ideologia,
paixão,
irrigação,
escolhas.
Sou negra, branca, amarela, vermelha, um arco-íris.
Vario minhas cores, meus cheiros,
só não mudo o objetivo, irredutível.
Sonho viável, palpável.
Sou produto nacional, local,
paulistana, e agora,
gerais.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Eu gosto de recomeçar!
Sou vencedora, não vencida
Se caio, logo levanto
Sou rouca mas sempre canto
Sou liberta, sem ser livre
Convicta, mas não convencida
Vivo, sem ser vivida
Só que sou certa e medida

Eu gosto de recomeçar!
Paro, mas logo ando
Se o fim chega, volto atrás
Direita ou esquerda, tanto faz
Faço mais bem do que mal
Sem ser benévola, sou boa
Gosto do barulho de qualquer som
Sem etiquetas, mas de bom tom
Eu gosto de recomeçar!
A dormir estou acordada
Se sonho, logo acordo
Se esqueço, logo recordo
Amo mais do que preciso
Sou confusa e concisa
Amo o inferno e o paraíso
Eu gosto de recomeçar!
Gosto do velho e do novo
Se me fecho, abro-me logo
Gosto do frio e do fogo
Amo o espírito e o concreto
Vejo na noite um céu aberto
Se agora falho, logo acerto
E não paro nem por decreto!