Engraçada...
Desgraçada personagem aquela...
Servia para qualquer peça, para qualquer coisa,
cabia em qualquer teatro...
Ocuparia todo o palco, se expandiria,
poderia até fazer rir ou chorar.
Se precisasse, daria cambalhotas, espalhafatosos gestos...
Contaminaria as pessoas que com ela contracenassem.
Também poderia dizer num monólogo, talvez estático,
quase declamativo, aquilo que precisasse dizer realmente.
Poderia ser cômica ou dramática
conforme a visão do diretor, sempre paternalista,
mas pseudochicote de cima para baixo:
para diminuir a tensão, ou ao contrário,
mais para aumentar a intensão.
Desgraçada esta personagem que poderia ser o papel principal
ou apenas uma pequena ponta numa cena de multidão
Engraçada esta personagem, em que os aplausos
tiram dos olhos lacrimaquiadas águas que descem emocionadas,
sujas de fome, com sonhos de fama
em rugas de lama
formando o rio da sua vida.