Carnaval, muitos querem uma farra boa para extravasar a energia, som nas alturas, noites inteiras de folia e bebedeira, há quem goste. Outros preferem a calmaria, longe da agitação fazem de sua folia momentos de paz e tranquilidade para recompor a energia. Comigo foi assim, calmaria, traquilidade e paisagens de se tirar o fôlego, literalmente.
Estive em Codisburgo, terra de meu ídolo Guimarães Rosa, para um passeio. Já tinha visitado a Gruta de Maquiné quando criança, porém, não entrara na cidade. Dessa vez, iria visitar a Casa onde Guimarães nasceu e passou a infância, mas infelizmente, devido ao feriado prolongado do carnaval, adivinhem: isso mesmo, tudo fechado. Ainda assim, fiz um passeio pela cidade e me senti privilegiada em pisar no lugar onde nasceu um gênio que revolucionou e deu sua enorme contribuição para nossa Literatura. Como costumo considerar, Minas realmente é o berço da Literatura.Ah, Minas, Minas querida!
Claro que a viagem não foi perdida, aproveitei também para voltar à Gruta de Maquiné e revisitar suas belezas, ao entrar novamente na Gruta após quase trinta anos, uma emoção tomou conta de mim e pude perceber que me lembrava perfeitamente de quase tudo.
A gruta foi descoberta em 1825 pelo português Joaquim Maria do Maquiné e pesquisada, cientificamente, em 1834, pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund Lund e considerada uma das mais belas do mundo. Lund assim descreveu a gruta; “A mais rica imaginação poética não saberia engendrar uma tão esplêndida morada para os seres maravilhosos; diante desta notável gruta; ela seria forçada a confessar sua impotência... Quanto a mim, confesso que, seja quanto à natureza, seja quanto à arte, jamais contemplei algo tão maravilhoso.” A Gruta de Maquiné tem uma extensão de 650 metros, 18 metros de profundidade, uma temperatura que varia entre 18º e 22ºC e uma área de 12.000m².
O ponto alto de revisitar Maquiné, foi conhecer uma figura que atende pelo nome de Luís. “Seu” Luís para mim, é uma personagem saída de algum livro, ele é bem humorado, alegre, brincalhão e gosta de pregar peças na gente. Trabalha no estacionamento da Gruta e faz as vezes de recepcionista, e que recepcionista! No estacionamento, enquanto esperava para subir para a entrada da Gruta, acendi um cigarro e ele me pergunta:
- Você fuma?
Eu já achando que ele iria me pedir um cigarro ou dizer que fazia mal, etc, etc, eu devolvi a pergunta:
“sim, o senhor aceita um?” ele me responde com o ar mais sério do mundo:
- Não, obrigado, eu parei... - e já tirando o maço do bolso da camisa - tem dez minutos que eu não fumo! - caio na gargalhada e pergunto; "como o senhor se chama?"
- Me chamo Luís, mas pode me chamar de Luís Preto, que é como todos me conhecem. - A partir daí, “seu” Luís já tinha virado amigo de infância! Como continuava esperando para subir, “seu” Luís me diz bem baixinho:
- Não sei se já liberaram a gruta - e eu pensei: “era só o que me faltava, além de tudo, essa gruta estar fechada justo hoje”, fui logo perguntando: “está fechada hoje?” e ele:
- Não, eles vão abrir, mas não sei se já liberaram porque encontraram uma cabeça dentro de uma sacola lá dentro hoje bem cedinho - “que horror!”, exclamo. E ele com a cara mais lavada do mundo:
- Mas não se preocupe, é uma cabeça, mas é uma cabeça bem pequena de repolho. Caio na gargalhada e peço para ele pregar a peça nos outros e fico só olhando.
“Seu” Luís é realmente uma personagem fugida de algum livro! Deseja a todos uma boa visita, sempre com uma alegria de estar ali, que contagia, ajuda os motoristas a acharem uma vaga melhor na sombra, orienta que há mais vagas na parte superior do estacionamento, diz que ali “está bem guardado”. Depois do passeio, volto a encontrar com “Seu” Luís que vem logo com outra pegadinha:
“Seu” Luís é realmente uma personagem fugida de algum livro! Deseja a todos uma boa visita, sempre com uma alegria de estar ali, que contagia, ajuda os motoristas a acharem uma vaga melhor na sombra, orienta que há mais vagas na parte superior do estacionamento, diz que ali “está bem guardado”. Depois do passeio, volto a encontrar com “Seu” Luís que vem logo com outra pegadinha:
- Você sabe porque a loira colocou leite dentro do pastel?
“Não “Seu” Luís” – respondo.
- É para beber leite “pausterizado”!
Respondam: é ou não é uma personagem?!!! E “Seu” Luis ainda brinca:
- Tenho 92 anos, vou ficar mal humorado por quê? Dessa vida a gente só leva alegria!
- “Seu” Luís o senhor tem 92 anos?!!! Vai precisar me ensinar o seu segredo!!! E ele solta:
- Não tá acreditando? Então pergunta pro finado meu avô! - Agora tenho absoluta certeza; “seu” Luís fugiu de algum livro!!!
Na hora da despedida, ele fica solene, tira o bonezinho e diz;
- Vão com Deus, eu peço para todos que passam por aqui, que não corram na estrada, vocês não precisam de pressa para chegar, precisam chegar bem e com segurança. Essas estradas são muito perigosas, para quê facilitar? Nossa Senhora Aparecida acompanhe vocês.
Abraço “seu” Luís, peço uma foto e ele me abraça para a pose todo satisfeito. Nos despedimos e digo a ele o enorme prazer que tive em conhecê-lo. Olho para trás e ainda vejo “seu” Luís acenando com o bonezinho na mão.
Quando voltar a Codisburgo novamente para visitar a Casa de Guimarães, a Gruta será passagem obrigatória para levar o meu abraço ao “seu” Luís, personagem que fugiu de algum livro!
Agradeço à Luzynha, sem a qual não seria possível o registro da foto com "seu" Luís depois do tombo que levei dentro da gruta e minha máquina foi para o espaço!
Valeu Luzynha!!!