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sexta-feira, 27 de abril de 2012

O TAMBOR



Tambor que marca
As batidas de coração
De nossa Mãe Terra
Lembrando-nos de quem
Nos botou no mundo
.Ritmo que une 
Pulsar de Flama e Fogo
Reflexo 
                       Do desejo                                                             
De nossos corações.

No decorrer do tempo os povos uniram-se às batidas do coração da Mãe Terra, eles perceberam que a Mãe participava de suas cerimônias e sentiram que, ao bater os tambores, criava-se um ritmo comum, quase imperceptível, que parecia emanar da Terra. No interior de uma caverna, ou numa clareira da floresta, a batida do coração da terra afinava-se com a batida do coração de todos. Enquanto histórias das caçadas vitoriosas eram representadas diante da fogueira o Tambor emitia um som grave e fazia circular uma energia que deixava todo o grupo em estado de frenesi.

Até hoje, em várias parte do Planeta, povos continuam dependendo do Tambor para despertar a energia de cada um dos participantes de rituais ou cerimônias. O uso do Tambor gera uma energia coletiva que pode ser usada para ajudar em curas, orações, agradecimentos, viagens. O Tambor pode ser usado como um mapa ou guia para aqueles que buscam os universos paralelos ou estados alterados de consciência, ele conecta o coração da pessoa que empreende esta jornada com a batida do coração da Mãe Terra e lhe garante uma maneira segura de voltar ao corpo físico. O uso do Tambor como guia evita que a pessoa se perca no meio do caminho ou que perca seu equilíbrio interno ao sair em busca de outras realidades.

Os Xamãs veem usando desde os tempos mais remotos o som de flautas, cantos, animais ou batidas de tambor como um mapa para que o homem alcance os outros níveis de seu mundo interno. O som do Tambor é percebido pelo ouvido e internamente sentido, isto dá  uma nova impressão do primeiro som que qualquer ser humano já ouviu. Esse som estava no útero e era um duplo batimento cardíaco. O coração do filho e o coração da mãe ressoam através da bolsa amniótica e espelham a ligação humana com a Mãe Terra.

Sempre que existe um sentido profundo de conexão com a Mãe Terra, a energia da confiança torna-se mais atuante e a pessoa consegue realizar jornadas mais bem sucedidas. Esse senso de pertencer à Terra de forma natural capacitou os Xamãs a enxergar o mundo com mais facilidade. Aqueles que utilizam a batida do coração da Mãe Terra para cuidar de seus corpos, enquanto os espíritos viajam por universos paralelos, ficam relaxados e bem protegidos.

O poema Quero Ser Tambor do moçambicano José Craveirinha nos fala dessa sensação de pertencimento à Terra e do querer ser só coração!

Quero Ser Tambor


Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor 
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu 
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até a consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!