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domingo, 11 de dezembro de 2011

Quando todo o país encerram as homenagens, mais que merecidas, a Clarice, eu a reverencio como faço à cada momento em que não me canso de ler e reler sua obra. Ela é minha "Estrela" maior. À cada nova leitura descubro e redescubro, leio pelo prazer quase inocente de redescobri-la sempre, espantosamente atual, humana e divina...
As últimas palavras de Clarice antes de sua partida:

"Sou um objeto querido por Deus. E isso me faz nascerem flores no peito. Ele me criou igual ao que escrevi agora: 'sou um objeto querido por Deus' e ele gostou de me ter criado como eu gostei de ter criado a frase. E quanto mais espírito tiver o objeto humano mais Deus se satisfaz..
Lírios brancos encostados à nudez do peito. Lírios que eu ofereço e ao que está doendo em você..Pois nós somos seres e carentes. Mesmo porque certas coisas - se não forem dadas - fenecem. Por exemplo, junto ao calor de meu corpo, as pétalas dos lírios se crestariam. É por isso que me dou à morte todos os dias. Morro e renasço.
Inclusive eu já vivi a morte dos outros. Mas agora morro de embriaguês de vida. E bendigo o calor do corpo vivo que murcha lírios brancos.
O querer, não mais movido pela esperança, aquieta-se e nada anseia.
Meu futuro é a noite escura e eterna. Mas vibrando em elétrons, prótons, nêutrons, mésons, e para mais não sei, porém, que é no perdão que eu me acho.
Eu serei a impalpável substância que nem lembrança do ano anterior substância tem."
(Apud Borelli, Olga. Clarice Lispector: Esboço para um possível retrato, pp. 61 a 62)

E como disse nosso poeta Carlos Drummond de Andrade na ocasião da morte de Clarice :

“Clarice

Veio de um mistério

partiu para outro

ficamos sem saber a essência do mistério

ou o mistério não era essencial.

Essencial era Clarice vagando nele.”

Vago sempre nesse mistério tentando descobrir a essência, porém, o gênio de Clarice me relembra sobre sua escrita :

"Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte."

A escrita de Clarice, me faz lembrar os versos do poeta indiano Rabindranath Tagore que diz :

"Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio e agüentá-lo. Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília estrelada com a cabeça pacientemente inclinada. A manhã certamente virá; a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em torrentes douradas por todo o céu. Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros, e as tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta." 

Enfim, assim é Clarice. É Lis, é Lírio, é Lispector no peito!










Um comentário:

  1. Já gostava de Clarice, mas você me faz gostar mais ainda de sua estrela.

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