Olho de Lince
Quem fala que sou esquisita hermética
É porque não dou sopa estou sempre elétrica
Nada que se aproxima nada me é estranho
Fulano sicrano e beltrano
Seja pedra seja planta seja bicho seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta
Ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
Experimento tudo nunca me iludo
Quero crer no que vem por ao beco escuro
Me iludo passado presente futuro
Revir na palma da mão o dado
Presente futuro passado
Tudo sentir de todas as maneiras
É a chave de ouro do meu jogo
De minha mais alta razão
Na sequência de diferentes naipes
Quem fala de mim tem paixão.
Bethânia já não cabe apenas nos rótulos de romântica, brejeira ou artista de massa, dessa maneira, chegou a Belo Horizonte esse final de semana para lançar seu novo projeto “Bethânia e as Palavras” que teve início aqui mesmo em 2009, quando a convite da professora e doutora em estudos literários da UFMG Lúcia Castelo Branco, participou do Ciclo Sentimentos do Mundo.
É preciso dar-lhe o crédito necessário, afinal, poucos artistas têm a ousadia e confiança para se lançar num projeto como esse, porém, Maria Bethânia além de dar voz às canções, sempre as carregou de poesia, que, aliás, tem como sua marca registrada, interpretações e leituras de textos durantes seus shows, o que costuma levar a platéia ao êxtase.
Dessa vez, não foi um show como seu público está acostumado a ver, mas como ela mesma fez questão de ressaltar um “exercício de delicadeza”, e cá para nós, quanta delicadeza! Acompanhada de seu fiel escudeiro, o violonista e maestro, Jaime Além e o percursionista Carlos César, em uma hora e vinte minutos, Bethânia – a Majestade – brindou seus súditos com a delicadeza de textos impecavelmente selecionados, alternando leitura e música, além de arrancar lágrimas de uma platéia emocionada e sensibilizada pelo encantamento da voz das sereias que ela tanto gosta.
O espetáculo se desenvolveu sob o signo da sensibilidade, da forte vontade de causar encantamento nas pessoas de forma direta. Sem conceitos fortemente intrincados, o público viu sua estrela brilhar mais próxima da terra. Bethânia afagou a platéia, ofereceu momentos de fruição, ela conseguiu – e consegue – silenciar o teatro para que todos ouçam e apreendam o que de novo, belo e intimista tem a apresentar. Há um sertão nos harpejos da viola. Um luar esquecido a brilhar dentro e fora do teatro.
Em outros tempos escrevi: Bethânia maximiza fatos. Eu creio em fatos... Cantei, gesticulei, busquei adjetivos novos, mas não encontrei. Inscrevi novamente a palavra devoção no nome dela... Aqui, reescrevo essa mesma devoção renovada. Saí do teatro com a lua a brilhar no céu e esparramar encantamentos e magias, saí de alma lavada e perfumada pelo exercício de delicadeza de Minha Deusa a completar minhas tarefas diárias. Agora repito a mesma pergunta de tempos atrás nas palavras de nosso saudoso Gonzaguinha: “E a vida o que é diga lá, meu irmão?” Não dando mais para segurar, o coração, literalmente, explodiu...
Delicadeza é sempre bom! vindo de quem a gente gosta então! Melhor ainda!
ResponderExcluirBeijos
E ela merece cada palavra escrita por vc...
ResponderExcluirbjs.